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Da política de preços à energia renovável: o que deve mudar na Petrobras com a chegada de Prates

Governo vem tentando apressar a posse do senador petista no comando da estatal

5 jan 2023 - 15h10
(atualizado às 21h41)
Foto: Estadão

Ainda sem data para começar, a nova gestão da Petrobras terá como prioridade resolver a questão do reajuste dos preços dos combustíveis. É o que sinaliza o indicado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a presidência da empresa, o senador petista Jean Paul Prates, que deve assumir a companhia nas próximas semanas. Para isso, o governo vem tentando aprovar o nome de Prates como presidente interino no Conselho de Administração da estatal, depois que o presidente da gestão anterior, Caio Paes de Andrade, renunciou ao cargo na quarta-feira, 4. Sem o atalho da aprovação como interino pelos conselheiros, os trâmites normais exigiriam a realização de assembleia de acionistas e a chegada do senador poderia demorar pelo menos dois meses.

Após receber do novo governo a indicação de Prates para o cargo, no último dia 2, a Petrobras encaminhou o nome do senador para o setor de conformidade da companhia, que avalia se a documentação e o currículo do indicado se enquadram no estatuto da empresa e na Lei das Estatais. Esse processo demora entre cinco e 20 dias. Em seguida, a indicação passa pelo Comitê de Pessoas (Cope) do Conselho de Administração, que tem oito dias, prorrogáveis, para se manifestar. Ao fim do processo, o nome ainda passa por uma votação no colegiado de 11 membros. Se aprovado por maioria simples, o indicado é empossado no cargo.

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Em outubro, Prates explicou ao Estadão/Broadcast que a mudança na política de preços da empresa está baseada em quatro pilares. O primeiro seria substituir a atual política de paridade de importação por um preço de referência, que seria aplicado por produto, por região e por área de influência. Outra proposta é uma conta de estabilização, que seria alimentada por lucros extraordinários das empresas do setor, royalties e dividendos. Inicialmente, era previsto também arrecadação de recursos via imposto de exportação de petróleo, mas a ideia teve resistência e foi descartada.

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O terceiro pilar para uma queda sustentável dos preços também passa pela criação de estoques reguladores, com uma estruturação de política nacional junto a todas as empresas do mercado de óleo e gás e de biocombustíveis. Para completar o processo, o futuro presidente da estatal pretende ampliar a capacidade de refino da companhia com ampliações das plantas já existentes e com a conclusão de obras ou unidades novas, com foco em diesel, Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) e aproveitamento do gás natural, disse Prates em outubro.

Fim da venda de refinarias

A proposta enterra de vez o programa de desinvestimento em refino da gestão anterior, que, em 2019, colocou à venda oito das 13 refinarias da companhia. De lá para cá, o programa conseguiu vender apenas uma refinaria de grande porte, na Bahia, e duas pequenas: uma no Paraná (SIX) e outra no Amazonas (Reman). A Refinaria de Mataripe, na Bahia, é dona de 14% do mercado de refino. Hoje, é controlada pela Acelen, braço de investimento do fundo de investimento árabe Mubadala.

Ao contrário dos quatro presidentes que passaram pela empresa no governo Bolsonaro, Prates defende que a Petrobras explore energias renováveis, seguindo o caminho das principais petroleiras globais, o que indica diversificar investimentos. Hoje, a maioria dos recursos está concentrada na exploração e produção, principalmente na região do pré-sal. Na gestão anterior, a teoria era a de que a Petrobras deveria se concentrar na produção de combustíveis mais limpos, como o diesel RX, resultante do coprocessamento do diesel fóssil com óleos vegetais, cuja produção ainda é tímida.

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Dividendos

A pretensão de Prates é bem aceita por especialistas do setor, mas contraria a atual estratégia da empresa. Para executar o novo plano, será preciso aumentar, e muito, o volume de investimentos da companhia nos próximos anos, e, por consequência, reduzir o pagamento de dividendos.

Em plano estratégico divulgado no fim de novembro do ano passado, a atual diretoria da Petrobras informou pretender investir US$ 78 bilhões de 2023 até 2027, sendo 83% reservados à exploração e produção de petróleo. O montante não é pequeno para o que se propõe, mas, segundo o entorno de Prates, é limitado para a transformação pretendida.

Essa seria uma das maiores mudanças na estrutura da companhia, que, segundo o atual governo, vinha sendo usada pela gestão Bolsonaro como "vaca leiteira", termo que no mercado financeiro se refere a empresas boas pagadoras de dividendos, e, portanto mais procuradas pelos investidores. Prates quer elevar significativamente os investimentos, mesmo que para isso reduza os proventos dos acionistas, entre eles a União.

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Na gestão anterior, a Petrobras chegou a distribuir dividendos aos seus acionistas no mesmo valor do lucro obtido no período, somando cerca de R$ 173 bilhões de janeiro a setembro. Com a perspectiva de queda na próxima distribuição, as ações da companhia têm perdido valor na bolsa brasileira.

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"Os proventos da Petrobras no ano passado foram altos, mas não devemos ver essa força no quarto trimestre, porque já deve ter a influência do novo presidente, e isso já está sendo precificado nas ações", disse o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman.

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