A demissão do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, é provável nos próximos dias, disseram duas fontes do governo à Reuters nesta quinta-feira, enquanto pessoas ligadas ao CEO da estatal acreditam que ele têm fôlego para passar por mais esta "fritura", a depender do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
As notícias sobre os rumos da direção da Petrobras colaboram com a volatilidade das ações da estatal durante a sessão, também afetadas por informações sobre dividendos extraordinários.
As conversas sobre a saída do executivo voltaram à tona após uma entrevista nesta semana do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que expôs sua relação desgastada com Prates em meio a debates sobre o pagamento de dividendos extraordinários pela empresa.
O tema já havia gerado tensão entre a estatal e o governo em março, mas foi apaziguado na época por Lula.
Prates se manifestou de forma irônica na rede social X sobre o assunto, publicando uma mensagem de WhatsApp com a resposta "vai pra casa jantar... e amanhã... estará de volta na empresa, pois sempre tem agenda cheia" à pergunta "Jean Paul vai sair da Petrobras?".
As fontes do governo, que falaram na condição de anonimato, disseram que o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, um petista histórico, está entre os cotados para assumir o posto no lugar de Prates. Outro nome em consideração é o de Bruno Moretti, secretário especial da Casa Civil da Presidência e integrante do conselho de administração da Petrobras, que é próximo do ministro da Casa Civil, Rui Costa.
Fontes próximas ao presidente da Petrobras avaliam que, além de Silveira, Costa também não vê o presidente da Petrobras com bons olhos. "O bombardeio ao Prates sempre veio da dupla (Silveira e Costa)", disse uma fonte.
Segundo outra fonte ligada a Prates, a entrevista de Silveira ao jornal Folha de S.Paulo "colocou a discussão em outro nível".
"Cabe ao Planalto dar razão a ele ou não. Eu acho que Jean de fato vai procurar que Lula oriente. Fica difícil trabalhar com um CA (conselho de administração) orientado em uma linha que o próprio ministro entende ser incompatível com o presidente da empresa", comentou.
Uma terceira fonte próxima a Prates disse que o CEO espera que uma reunião com Lula venha a acontecer em breve para discutir o tema, algo que pode não ser simples esta semana, já que o presidente está em viagem pelo Nordeste nesta quinta-feira e também na sexta-feira.
Essa fonte opinou que tudo vai depender dos "humores de Brasília", destacando que "deve ser a décima certeza de demissão de Jean Paul".
"Os nomes que têm interesse na presidência da Petrobras sempre colocam lenha na fogueira. Ou os próprios ou seus padrinhos", disse, acrescentando que não considera provável uma demissão do CEO.
A Federação Única dos Petroleiros (FUP), ligada ao PT, criticou em nota o que chamou de "espancamento público" de Prates, mas ressaltou que qualquer decisão deve ser de Lula.
A FUP ainda citou que o CEO tem buscado fortalecer a estatal como "promotora de investimentos, capazes de contribuir para a geração de emprego e renda dos brasileiro", algo que os adversários do presidente da Petrobras questionam.
Procurados, o Ministério de Minas e Energia e a Petrobras não comentaram o assunto imediatamente.
A demissão de Prates já vinha sendo debatida no governo como uma possibilidade para este ano, mas agora é considerada mais próxima, segundo uma das fontes do governo ouvidas pela Reuters, lembrando que antes a dúvida seria quando a saída do executivo aconteceria.
Os atritos de Prates com o ministro de Minas e Energia têm ficado cada vez mais escancarados, o que tem enfurecido o presidente Lula, segundo as fontes.
Na entrevista à Folha desta semana, Silveira admitiu que há um conflito com Prates e que diverge do executivo, citando temas como a questão dos dividendos.
AÇÕES E DIVIDENDOS
As ações da Petrobras tinham uma sessão volátil, em meio às notícias envolvendo o comando da estatal e também sobre a distribuição de dividendos pela companhia, com as preferenciais tendo já oscilado entre uma máxima de 39,48 reais e uma mínima de 37,43 reais.
Os papéis começaram o dia em alta, avançando 2,76% no melhor momento, mas abandonaram o sinal positivo e chegaram a cair 2,58% após a CNN Brasil noticiar sobre a demissão "iminente" de Prates.
As ações, contudo, experimentaram uma guinada e recuperaram o território de alta após O Globo noticiar que os ministros da Fazenda, da Casa Civil e até de Minas e Energia concordaram sobre o pagamento de dividendos extraordinários da petroleira que foram retidos pelo conselho de administração em março.
Às 15h44, as ações preferenciais tinham leve alta de 0,2%, após subirem mais de 2% anteriormente.