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Dinheiro caro ainda será entrave ao crédito e aos investimentos no Brasil para os próximos anos

Decisão de investir depende, no setor privado, dos juros, das perspectivas da economia e, obviamente, da confiança dos empresários; governo pode favorecer essa confiança mostrando eficiência

19 set 2024 - 09h10

Com crescimento econômico de 1,4%, o Brasil conseguiu no segundo trimestre o dobro da expansão média do Grupo dos 20 (G20), formado pelas maiores potências capitalistas e também pela China e pela Rússia. Só as economias do Canadá e da Índia cresceram tanto quanto a brasileira. No confronto com o mesmo trimestre do ano passado, o avanço brasileiro, de 2,8%, foi superado pelos da Índia (6,8%), da Indonésia (5%), da China (4,7%) e dos Estados Unidos (3,1%). Apesar da perda de ritmo em julho, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aumentou sua aposta no dinamismo econômico e já indicou expansão pelo menos igual a 3% em 2024.

A produção industrial encolheu 1,4% em julho e acumulou expansão de 2,2% em 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda em julho, o Produto Interno Bruto (PIB) deve ter diminuído 0,41%, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br). Pouco menos sombrio, o Monitor do PIB-FGV apontou retração econômica de apenas 0,1% no mês, com recuo do consumo familiar e da atividade industrial. No mercado financeiro, onde persistem sinais de otimismo, o crescimento projetado para o ano chegou a 2,96% na segunda semana de setembro, de acordo com o boletim Focus publicado no dia 16 de setembro.

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Não se observa o mesmo otimismo, no entanto, quando se trata da evolução dos preços. Em quatro semanas, passou de 4,22% para 4,35% a inflação estimada com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Também se elevou a variação projetada para os dois anos seguintes. Pelos novos cálculos, o índice aumentará 3,95% em 2025 e 3,61% em 2026, permanecendo abaixo do teto (4,5%) mas bem acima do centro da meta (3%). Como consequência, os juros básicos subiram na quarta-feira, para 10,75%, e seguirão elevados: 11,25% em dezembro deste ano, 10,50% no final de 2025, 9,50% no encerramento de 2026 e 9% um ano depois, ainda de acordo com o boletim Focus.

Dinheiro caro ainda será, portanto, um entrave ao crédito e ao investimento produtivo, dificultando a expansão e a modernização da economia. O efeito do baixo investimento em máquinas, equipamentos e obras está implícito nas taxas modestas de expansão do PIB estimadas para os próximos anos.

Indústria brasileira tem dado sinais preocupantes de retração em 2024
Indústria brasileira tem dado sinais preocupantes de retração em 2024
Foto: Tiago Queiroz / Estadão / Estadão

Segundo o Monitor do PIB-FGV, o valor investido correspondeu em julho deste ano a 17,4% do PIB, superando a média mensal a partir de 2015 (16,4%), mas continuando abaixo do padrão registrado a partir do ano 2000 (17,9%). Mesmo esse padrão ficou abaixo do observado em fases de maior dinamismo econômico. No Brasil, esse dinamismo esteve associado, nas três décadas finais do século passado, a taxas de investimento frequentemente superiores a 18% do PIB. Essas taxas têm sido registradas em várias outras economias emergentes, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Investimento em capacidade produtiva é realizado tanto pelo governo quanto pelo setor privado. O setor governamental participa de várias formas desse processo, investindo isoladamente, em associação com grupos privados e afetando de várias formas as condições do investimento empresarial.

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A decisão de investir depende, no setor privado, da taxa de juro, das condições gerais de financiamento, do ritmo de atividade, das perspectivas da economia e, obviamente, da confiança dos empresários. O governo pode favorecer essa confiança mostrando eficiência, indicando objetivos claros e críveis, controlando seus gastos, diminuindo as complicações burocráticas e garantindo uma razoável previsibilidade. Um presidente contido, discreto e capaz de resistir, por exemplo, à tentação de interferir na gestão das estatais, dará uma contribuição relevante. Sem essas condições, a redução de juros pelo Banco Central será muito menos eficaz.

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