O dinheiro em espécie como conhecemos está à beira da extinção. Em uma década, o uso das cédulas de papel será apenas uma memória distante e as transações financeiras serão feitas por moeda digital, de forma eficiente, segura e inclusiva.
A previsão é de Luiz Maluf, especialista em tecnologia bancária da DataRain, empresa brasileira de soluções AWS na América Latina. Como argumentos para essas afirmações, ele aponta os avanços na implantação do Drex, também conhecido como Real Digital, e as recentes resoluções pelo país afora, como a proibição do uso de dinheiro físico para o pagamento do transporte público, em Brasília, vigente desde julho de 2024.
“A transição para o dinheiro digital já está em andamento. E medidas como a tomada em Brasília, facilitam a automação, reduzem a necessidade de trabalho humano na cobrança, e melhoram a segurança. Também podemos dizer que é um passo importante para a inclusão de moedas digitais no cotidiano das pessoas, fazendo-as se habituarem, embora o Pix já seja bastante popular entre os brasileiros”, comenta.
Maluf também cita o Projeto de Lei 4068/20, que propõe a abolição do uso de dinheiro em espécie em todas as transações no País.
“Embora a tecnologia suporte essa transição, é essencial implementar políticas de inclusão digital para garantir que todos tenham acesso aos serviços digitais”, pondera.
Extinção acontecerá em 10 anos
O especialista prevê o fim do dinheiro de papel em dez anos e enxerga a mudança de forma positiva. “O dinheiro físico não é ecologicamente sustentável, sua gestão é difícil e ele facilita a corrupção. Com a tecnologia blockchain, o Drex oferece uma operação segura e transparente”, diz.
O Drex, moeda digital brasileira, criada para substituir o papel, está em desenvolvimento desde o final de 2019, com a fundação do Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) do Banco Central.
Em 2021, o BC lançou um desafio para que empresas apresentassem protótipos de operações digitais. Em 2023, iniciaram os pilotos operacionais e espera-se que a moeda esteja amplamente disponível até 2025.
Diferença entre Drex e Pix
Maluf explica que o Drex é uma moeda digital soberana, enquanto o Pix é uma plataforma de liquidação instantânea de ativos financeiros. Eles podem operar juntos, mas o Drex utiliza a tecnologia blockchain para registrar as operações, algo que o Pix não faz.
“A maior vantagem do Drex é a integração com contratos inteligentes, permitindo que a liquidação financeira ocorra simultaneamente à jurídica e documental. Além disso, é instantânea, não requer serviços gráficos especializados e é mais fácil de gerenciar. Com a LGPD, é facilmente rastreável, o que ajuda na segurança”, compara.
Segurança digital e inclusão
A arquitetura do Drex envolve o uso de algoritmos tokenizados em nuvem computacional, com operações registradas numa plataforma de blockchain Hyperledge/BESU, que é aberta (Open Source). Ela supõe que o usuário esteja interligado à rede do sistema financeiro, sob supervisão do Banco Central. A nuvem computacional permite implementar mais de 90 funções de segurança e criptografia.
“As moedas digitais são mais seguras tanto contra cibercrimes quanto contra crimes comuns, pois incorporam criptografia e diversas funções de segurança que, se gerenciadas corretamente, podem eliminar fraudes digitais e corrupção”, diz.
Ele explica que a tecnologia é capaz de suportar o uso e altos volumes de transações, mas é importante que haja uma política governamental de inclusão digital para contemplar cerca de 10% da população brasileira, que ainda tem dificuldades no acesso a equipamentos celulares, especialmente em regiões remotas.
“Com o advento dos serviços de acesso via DSB (Digital Satellite Broadcasting), como a Starlink, até mesmo comunidades isoladas, como as indígenas na Amazônia, poderão ter acesso à conectividade móvel”, finaliza.
(*) HOMEWORK inspira transformação no mundo do trabalho, nos negócios, na sociedade. É criação da Compasso, agência de conteúdo e conexão.