Sete em cada dez brasileiros não usa palavras positivas para descrever sua relação com o dinheiro, segundo apontou um estudo inédito da fintech Will Bank, divulgado nesta quinta-feira, 15. No total, 47,3% dos entrevistados disseram palavras negativas para descrever sua vida financeira, enquanto 24% usaram palavras neutras; a relação é ainda pior para mulheres pretas e pardas das classes sociais mais baixas.
Para a maioria das pessoas, falar de dinheiro está relacionado à uma luta diária com privações e dívidas, segundo concluiu o estudo "Dismorfia Financeira". Além disso, a pesquisa também revelou um sentimento de 'inadequação' aos seus próprios padrões de vida entre os entrevistados.
O termo "dismorfia financeira", criado pela fintech, diz respeito ao sentimento de não pertencimento em relação à própria realidade financeira, isto é, a forma como diferentes pessoas percebem as próprias finanças — seja gastando mais do que ganha ou não se sentindo confortável com novos espaços conforme ascende socialmente.
Nas finanças pessoais, apenas 28,7% dos entrevistados classificou sua vida financeira como estável. Enquanto isso, 47,3% responderam que falar de dinheiro era sinônimo de "problema".
O objetivo do estudo foi entender a relação do brasileiro com suas finanças pessoais, fugindo da ótica de ter ou não o dinheiro em si, mas sim como é a inclusão e o sentimento de pertencimento dessas pessoas em suas próprias realidades. Para isso, foram entrevistadas mais de 2 mil pessoas, entre 18 e 40 anos, de diferentes grupos étnicos, classes sociais e de todas as regiões do País.
Dos entrevistados, 71% responderam que há lugares em que se sentem desconfortáveis de estar ou de pensar em ir. A dismorfia financeira pode, além de atrapalhar o bem-estar das pessoas, criar uma aversão ao assunto. Querer “evitar” o problema pode ter como resultado uma falta de consciência dos próprios gastos e ausência completa de metas financeiras, facilitando o caminho para o endividamento.
“A dismorfia financeira é baseada na falta de pertencimento a um padrão criado por aqueles que já têm dinheiro. Ainda assim, ela não afeta apenas os mais pobres e marginalizados. Mesmo quando se alcança um determinado patamar, a falta de algo sempre prevalece, o padrão ideal nunca é ou será alcançado, gerando sentimentos muitas vezes conflitantes em meio a realidades distorcidas”, explica Felipe Félix, CEO do Will Bank.
A pesquisa também mostrou que:
• 79% responderam que têm o desejo de consumir hoje muitas coisas que não puderam consumir no passado (infância, adolescência);
• 71% acham que outras pessoas ganham facilmente aquilo que elas precisam conquistar com muito esforço;
• 60% têm medo de usar crédito oferecido por instituições financeiras porque têm medo de não conseguirem pagar;
• 55% acham que, para terem tudo o que desejam, só dependem de dinheiro;
• 49% sentem que a condição financeira pessoal piorou nos últimos 12 meses;
• 40% têm tantas contas em atraso que consideram quase impossível gerenciá-las;
• 40% não vêem pessoas como si mesmas prosperando financeiramente.
Nos últimos 12 meses, os entrevistados mostraram que mudaram o padrão de consumo e de renda para acompanhar o ritmo da economia brasileira e de sua própria gerência financeira.
Eles apontaram que buscaram formas alternativas de aumentar a renda (36,4%), deixaram de fazer atividades culturais e de lazer (31,8%), atrasaram o pagamento de alguma conta (30,6%), deixaram de comprar alimentos que costumavam consumir (27,8%) e precisaram renegociar dívidas (25,3%).
Mulheres pretas sofrem mais
O estudo aponta ainda os abismos que existem entre perfis extremos. Homens brancos da classe AB1 são os que mais costumam descrever sua situação financeira como estável, ao mesmo tempo em que mulheres pretas e pardas da classe DE usam termos que remetem ao desespero quando questionadas sobre dinheiro.
Essas mesmas mulheres relataram demorar mais tempo para comprar o que desejam quando se comparam a conhecidos. Além disso, 74,3% delas afirmam sentir que outros ganham mais facilmente coisas que, para elas, exigem muito esforço.
No cenário atual, homens da classe AB1 utilizam em média quase seis produtos financeiros, enquanto mulheres pretas e pardas da classe D e E contam com apenas cerca de dois produtos. Apenas 2% desse grupo fazem investimentos, em contraste com 49% dos homens de classe mais alta.