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Dólar cai 1% e Bolsa sobe 0,5% em dia de prévia da inflação e preocupação com crise hídrica

IPCA-15 veio acima do esperado, em alta de 0,89%, puxado principalmente pelo preço da energia e dos combustíveis; moeda americana bateu no menor valor desde 4 de agosto

25 ago 2021 - 15h06
(atualizado às 18h38)

Apesar do noticiário movimentado, com IPCA-15 acima do esperado e as perspectivas de reajustes ainda maiores nas contas de luz, em meio à sinalização do governo de que a crise hídrica está pior, os ativos locais, em especial a Bolsa brasileira (B3), conseguiu virar o sinal nesta quarta-feira, 25, e fechar em alta de 0,50%, aos 120.817,71 pontos. No câmbio, o dólar, que caiu desde o começo da sessão, aprofundou as perdas no final do dia e cedeu 0,97%, cotado a R$ 5,2113 - menor valor desde 4 de agosto.

No segundo dia consecutivo de queda, a moeda tocou em R$ 5,2068 ao longo da tarde. Contribuiu para a arrancada do real a leve queda do índice DXY, responsável por medir a força do dólar ante outras moedas fortes -, que também cedeu. Apesar do clima positivo no exterior, as divisas emergentes ficaram instáveis, com queda do rand sulafricano e leve alta do peso mexicano, ambos tidos como pares do real.

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A avaliação é que a diminuição das tensões fiscais - desencadeada após a fala firme ontem do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a favor da manutenção do teto dos gastos - reduz o risco dos ativos locais. A diminuição da temperatura da crise político-institucional, na ausência de novo tiroteio entre o presidente Jair Bolsonaro e ministros do Supremo Tribunal Federal, também é vista como alavanca para melhora da percepção de risco.

"A taxa de câmbio vinha refletindo muito a delicada combinação de crise política e fiscal. E houve um certo alívio com a fala do Lira ontem, de respeito ao teto de gastos, apaziguando um pouco os ânimos. Além disso, o IPCA-15 de hoje, mais alto do que se esperava, chama mais juros, o que, na teoria, ajuda o real a performar bem", afirma o gerente da mesa de derivativos financeiros da H.Commcor, Cleber Alessie.

Conhecido como a prévia da inflação, o IPCA-15 de agosto subiu 0,89%, vindo de 0,72% em julho, puxado em boa parte pelo aumento de 5% da energia elétrica e dos combustíveis. O resultado alimenta as expectativas de que o Banco Central possa acelerar o passo e elevar a taxa Selic em 1,25 ponto porcentual em setembro. Ganham também mais forças as apostas de que a Selic possa atingir 8% no atual ciclo de aperto monetário.

Ainda no noticiário econômico, a arrecadação em julho somou R$ 171,270 bilhões, melhor resultado da série histórica e acima da mediana de Projeções Broadcast, de R$ 157,85 bilhões. No ano, até julho, a arrecadação tem aumento real de 26,11% em relação a igual período do ano passado. O ministro da Economia, Paulo Guedes, aproveitou os números positivos para "bater o bumbo" em torno da recuperação da atividade econômica. "Os nossos fundamentos fiscais estão mais fortes ainda", disse Guedes, afirmando que possivelmente haveria superávit primário no ano que vem, não fosse a reforma tributária.

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Já o economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, chama a atenção para o fato do presidente da Câmara ter adiado a votação da reforma do Imposto de Renda e ter dito que vai pautar a reforma administrativa. "O Brasil estava descolado do exterior desde que foi enviada a proposta de reforma fiscal para o Congresso, que o mercado entende como populista. O adiamento foi positivo", afirma Miraglia. "O cenário de médio prazo continua desafiador. Vai entrar na pauta até o fim do ano com mais força a discussão do orçamento de 2022. E a gente tem o 7 de setembro. Precisamos ver como vai ser o movimento de rua a implicação disso na relação entre os Poderes".

Em relatório, a Genial Investimentos afirma que os "fundamentos da economia brasileira" indicariam uma taxa de câmbio de R$ 4,30 no fim deste ano e que o atual patamar da moeda americana é, em grande parte, determinado pela questão fiscal. "Sinalizar de forma crível que o teto será respeitado, é o instrumento para que o valor de mercado da taxa de câmbio se aproxime do valor determinado pelos fundamentos, contribuindo para o controle da taxa de inflação", afirma.

Bolsa

O Ibovespa mudou de sinal no meio da tarde e conseguiu conservar a linha de 120 mil pontos pelo segundo dia, após tê-la cedido em 16 de agosto. Na semana, o índice da B3 acumula agora recuperação de 2,34%. No mês, limita agora a perda a 0,81% em agosto, avançando 1,51% no ano. A alta generalizada do mercado de Nova York - que bateu recorde -, com o investidor já à espera do Simpósio de Jackson Hole na sexta-feira, no qual o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deverá trazer mais detalhes sobre a redução do programa de compra de títulos públicos.

Hoje, a percepção positiva sobre a arrecadação federal acabou por se impor à crise hídrica, a pior em 91 anos, que leva o governo a desenhar iniciativas que evitem racionamento, a começar pela administração pública. No fim da tarde, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, anunciou que, a partir de 1º de setembro, começará programa de redução voluntária de demanda para consumidores. O ministro disse também que o nível de precipitação se manterá baixo até o fim de setembro ou começo de outubro, destacando piora especialmente nos reservatórios do Sul.

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Já o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou estar trabalhando para aprovar entrada de quatro termelétricas, "após o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico avaliar, em reunião ontem, que houve 'relevante piora' de cenários e prospecções futuras das condições para o suprimento energético", observa em nota a equipe de análise da Terra Investimentos.

Entre as ações, destaque para o setor de energia, com Cemig PN em alta de 0,77%%, Eletrobras PNB, de 0,36%, Copel PNB, de 0,30% e Cesp, de 0,08%. No setor de mineração e siderurgia, Vale ON caiu 0,21% e CSN ON recuou 2,31%, mas Gerdau PN subiu 0,55%. /ANTONIO PEREZ, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO

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