O dólar caiu ante o real nesta terça-feira em um movimento de realização de lucro, mas fechou setembro com a maior alta mensal em três anos. Analistas acreditam que, se as chances de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) continuarem crescendo, essa escalada não deve dar trégua.
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A moeda norte-americana caiu 0,31% nesta sessão, a R$ 2,44 na venda mas, no mês, acumulou alta de 9,33%. É a maior valorização mensal desde setembro de 2011, quando o avanço foi de 18,15%. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro desta sessão ficou em torno de R$ 1,2 bilhão.
"Conforme a probabilidade de a Dilma ganhar as eleições aumenta, o dólar vai subindo, e não dá para dizer onde isso vai parar", afirmou o diretor de gestão de recursos da corretora Ativa, Arnaldo Curvello.
A forte pressão cambial em setembro fez com que o real devolvesse todas os ganhos acumulados desde o início do ano e se alinhasse a outras moedas emergentes, que têm se desvalorizado por preocupações sobre o futuro da política monetária dos Estados Unidos.
"Nós vamos ver um cenário muito parecido com 2002: até Dilma provar que vai adotar uma política econômica mais favorável aos mercados, o mercado vai pressionar", acrescentou Curvello, referindo-se à escalada do dólar à época do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma é criticada por investidores por adotar uma política excessivamente intervencionista que, segundo eles, levou o país à recessão sem conseguir controlar a inflação.
Na véspera, duas pesquisas eleitorais mostrando a presidente à frente da ex-senadora Marina Silva (PSB) em um esperado segundo turno das eleições elevaram o dólar ao maior nível desde 2008, ápice da crise financeira global. Isso abriu espaço para que, nesta sessão, a moeda norte-americana exibisse um movimento de realização de lucros.
"O mercado está dando um respiro, mas se o cenário eleitoral não mudar, o dólar não cai muito mais do que isso", afirmou o superintendente de câmbio da corretora Advanced, Reginaldo Siaca.
As próximas pesquisas eleitorais do Datafolha e do Ibope, que são mais acompanhadas pelo mercado, podem ser divulgadas já a partir desta terça-feira.
Intervenções
A perspectiva de alta sustentada do dólar é um desafio para o Banco Central brasileiro. Muitos investidores acreditam que o BC quer evitar pressões inflacionárias provocadas pelo aumento dos preços de importados e, por isso, deve continuar atuando fortemente no mercado de câmbio.
Além da oferta diária de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares, a expectativa é de que a autoridade monetária role integralmente o lote de contratos que vencem em 3 de novembro e correspondem a US$ 8,84 bilhões. Nas últimas semanas, o BC rolou praticamente todo o lote que vence na próxima segunda-feira.
A possibilidade de intervenções mais pesadas do que essas divide investidores. Apesar de já ter feito no passado leilões extraordinários de swaps e leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, alguns acreditam que essas armas não serão utilizadas pelo BC no curto prazo.
"Em parte, a alta do dólar é um movimento global e o BC já indicou que só atua mais forte se for para coibir excessos", disse o diretor de câmbio do Banco Paulista, Tarcísio Rodrigues. "Além disso, a volatilidade em época de eleições é inevitável".
Todas as principais moedas latino-americanas se desvalorizaram contra o dólar neste mês, mas o real foi destaque. O peso chileno, por exemplo, perdeu cerca de 2% em setembro, embora acumule queda de mais de 12% desde o início do ano.
O principal fator que sustenta esse avanço global do dólar é a perspectiva de os juros subirem nos EUA de forma mais intensa, o que poderia atrair à maior economia do mundo recursos atualmente aplicados em economias emergentes.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps pelas atuações diárias, com volume correspondente a US$ 197,3 milhões. Foram vendidos 2 mil contratos para 1º de junho e 2 mil para 1º de setembro de 2015.