O dólar teve forte queda frente ao real nesta sexta-feira, na esteira de movimento de realização de lucros, mas ainda fechou a semana com fortes ganhos, conforme investidores seguem preocupados com a possibilidade de o Banco Central ceder a críticas do governo sobre a conduta da política monetária.
A moeda norte-americana à vista caiu 0,98% neste pregão, a 5,2220 reais na venda, maior queda percentual diária desde 25 de janeiro (-1,21%).
Essa queda refletiu "operações de realização de lucros por parte dos agentes, visto que as operações do dia foram bastante tranquilas se comparadas ao visto ao longo da semana", disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
"(O presidente Luiz Inácio Lula da Silva) está no exterior em viagem a Washington e não houve grandes fatos no Congresso brasileiro; isso permitiu que os investidores aproveitassem esse momento."
Alguns participantes do mercado também disseram que exportadores aproveitaram o patamar elevado do dólar, que nesta manhã chegou a superar pontualmente os 5,30 reais, para ir às vendas, enquanto outros citaram fluxo pontual de entrada de recursos corporativos no mercado brasileiro.
Ainda assim, Mattos destacou que a semana foi marcada por bastante aversão a risco, em meio a ataques do governo federal ao Banco Central, com críticas à autonomia da autarquia, o nível da taxa de juros e as metas de inflação. Nesse contexto, o dólar encerrou a semana com alta acumulada de 1,49%.
O humor do mercado doméstico piorou especialmente na quinta-feira, depois de notícias de que a equipe econômica do governo estaria estudando antecipar uma revisão das metas de inflação do país na tentativa de acalmar as tensões entre o Banco Central e Lula, com o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, supostamente aberto a tais mudanças nos objetivos.
Em resposta, os ativos brasileiros despencaram no pregão de quinta, já que qualquer cessão do BC às pressões do governo seriam lidas como interferência política numa instituição que, por lei, é independente.
"O problema é que o principal capital de uma autoridade monetária independente é sua credibilidade. Se o BCB ceder muito nesse debate, corre o risco de perdê-la", disse a Mirae Asset em relatório a clientes.
Para além do movimento de ajuste, Mattos, da StoneX, disse que a queda do dólar nesta sexta-feira pode ter sido influenciada pela notícia de que o volume de serviços do Brasil cresceu bem mais do que o esperado em dezembro e alcançou o maior patamar da série histórica, terminando 2022 com ganhos pelo segundo ano seguido.
"Isso contribuiu para uma perspectiva positiva de crescimento econômico do país, e ajudou no movimento de valorização cambial", avaliou o especialista.
Enquanto isso, no mercado internacional, o dólar apresentava forte alta contra uma cesta de moedas fortes nesta tarde, com investidores voltando a mostrar preocupação com a trajetória de altas de juros do banco central norte-americano, o Federal Reserve.