O dólar emplacou a quinta queda diária consecutiva no Brasil, encerrando a sexta-feira com o maior recuo semanal desde agosto do ano passado, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinalizar a possibilidade de um acordo comercial com a China.
A moeda norte-americana à vista fechou em leve baixa de 0,12%, aos 5,9182 reais -- a menor cotação desde 27 de novembro do ano passado, quando encerrou em 5,9141 reais.
Na semana, o dólar acumulou baixa de 2,42% -- o maior recuo para o período desde a semana encerrada em 9 de agosto de 2024, quando cedeu 3,43% em cinco dias úteis.
Às 17h06 na B3 o dólar para fevereiro -- atualmente o mais líquido -- cedia 0,13%, aos 5,9260 reais.
O dólar despencou ante o real já no início da sessão, após Trump ter afirmado em entrevista à Fox News, na noite de quinta-feira, que a conversa na semana passada com o presidente da China, Xi Jinping, foi amigável e que ele acredita que pode chegar a um acordo comercial com o gigante asiático.
"Tudo correu bem. Foi uma conversa boa e amigável", disse Trump. "Eu posso fazer isso", acrescentou em outro momento, quando questionado se ele pode fazer um acordo com a China sobre práticas comerciais justas.
A entrevista ampliou a percepção nos mercados globais de que Trump poderá ser bem mais moderado em sua relação com parceiros comerciais, como a China, do que o sugerido em seus discursos de campanha.
"Agora é o Trump 'bonzinho'. Ele resolveu que quer negociar com a China, que não quer impor tarifas (de importação), e a China respondeu positivamente a isso", comentou durante a tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. "Em função disso, o dólar está se desvalorizando lá fora e aqui."
Após marcar a cotação de 5,9251 reais (-0,01%) às 9h00, na abertura do mercado, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,8680 reais (-0,97%) às 12h14. Até o fim da sessão, porém, a moeda recuperou força e quase zerou as perdas.
Profissionais ouvidos pela Reuters nos últimos dias vinham pontuando que a disparada do dólar no fim de 2024 -- na esteira das preocupações com as tarifas norte-americanas e com o equilíbrio fiscal brasileiro -- também havia deixado certa "gordura" nos preços.
Com o cenário externo mais favorável e o noticiário fiscal congelado no Brasil, em função do recesso do Congresso, parte dos prêmios de risco vem sendo retirada das cotações.
"6,00 reais para cima é exagerado. Então, isso em algum momento, com notícias positivas, iria cair", acrescentou Rugik.
O desafio agora para os agentes do mercado é tentar entender se o movimento tem fôlego para colocar o dólar em cotações ainda mais baixas, de forma sustentável.
"Cai para 5,50 (reais)? Não acredito. Não teremos uma queda tão brusca", avaliou Lucélia Freitas Aguiar, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. "Este é um momento para se aproveitar, até porque, quando se voltar a discutir as questões fiscais, pode estressar (as cotações)."
Por enquanto a preocupação da vez no governo é com os preços dos alimentos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou pela manhã que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,11% em janeiro, contra alta de 0,34% em dezembro. Oito dos nove grupos pesquisados tiveram alta nos preços, sendo que a maior influência foi exercida pelo avanço de 1,06% do grupo Alimentação e bebidas.
No início da tarde, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou que o governo poderá alterar alíquotas de importação de produtos que estiverem com preços mais altos no Brasil do que no mercado internacional, para baratear o custo dos alimentos. Ele também garantiu que não serão adotadas medidas heterodoxas para controlar a inflação de alimentos, como congelamento de preços ou tabelamento.
No exterior, às 17h20, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,65%, a 107,440.
Pela manhã o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.