Após ultrapassar a barreira dos 5,70 reais durante o dia, o dólar à vista desacelerou os ganhos na tarde desta terça-feira em meio a rumores nas mesas de operação de que o Banco Central estaria consultando Tesourarias de bancos sobre eventual intervenção no mercado de câmbio.
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Ainda assim, a moeda norte-americana à vista terminou a sessão em alta de 0,22%, cotada a 5,6665 reais na venda. Este é o maior valor de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando terminou em 5,6723 reais. Em 2024, a divisa já acumula elevação de 16,8%.
Às 17h18, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,10%, a 5,6805 reais na venda.
Pela manhã, antes mesmo da abertura do mercado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador, que faria "alguma coisa" em relação à alta recente do dólar ante o real, evitando detalhar qual medida será tomada "porque senão estarei alertando meus adversários".
Lula afirmou que há atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que voltará a Brasília na quarta-feira e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar. Ele também voltou a criticar o BC, dizendo que a autarquia não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.
A fala de Lula passou a pesar sobre os negócios ao longo da manhã e as cotações do dólar ganharam força. Profissionais do mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerava receios -- em especial, a possibilidade do uso do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para segurar a escalada da moeda norte-americana.
"O ponto do IOF tem efeito contrário, ampliando a fuga de capital. Toda vez que o governo cogita usar o imposto, o que ocorre é a saída de capital para outros países, para paraísos fiscais", comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Em Brasília, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou no fim da manhã que não há possibilidade de o governo mexer no IOF. Segundo ele, a melhor maneira de conter a desvalorização do real é melhorar a comunicação sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do BC.
Apesar da negativa de Haddad sobre o IOF, o dólar ganhou força e foi renovando máximas durante a tarde, com profissionais citando o acionamento de ordens de stop loss (parada de perdas) em alguns pontos, o que ampliou o impulso de alta. No pico do dia, às 14h52, o dólar à vista atingiu 5,7025.
"Quem intervém no câmbio é o BC, não o ministério da Fazenda", comentou no início da tarde Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. "O que o presidente Lula pode fazer no câmbio é tranquilizar o mercado, dizendo que vai cortar gastos. Quando o mercado acredita que o problema é de credibilidade, ações como alterar o IOF são momentâneas", acrescentou.
Na reta final dos negócios o dólar perdeu força e chegou a ceder ante o real, com profissionais do mercado citando rumores de que o BC estaria consultando Tesourarias de bancos para avaliar uma possível operação no câmbio.
Consultas deste tipo são comuns em momentos de maior estresse, como o atual, para que o BC possa medir o apetite do mercado por dólares à vista ou por contratos de swap. A instituição vem repetindo que somente vai intervir no câmbio, promovendo novos leilões de moeda, se perceber disfuncionalidades.
Às 17h15, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,15%, a 105,680.