Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar à vista tinha leve alta frente ao real nesta quinta-feira, à medida que a força da moeda norte-americana no exterior ofuscava fatores internos mais favoráveis à divisa brasileira, com foco nas decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central.
Às 10h23, o dólar à vista subia 0,27%, a R$5,6640 na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,01%, a R$5,663 na venda.
Os investidores reagiam à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na véspera de elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 14,25% ao ano, com as autoridades sinalizando mais um aumento de menor magnitude na reunião de maio.
Em comunicado, o Copom enfatizou que, para além da reunião de maio, a magnitude total do ciclo de aperto "será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
Segundo analistas, a sinalização de que o ciclo de aperto monetário deve continuar é favorável ao real, uma vez que garante um maior diferencial de juros entre o Brasil e seus pares, atraindo recursos de investidores estrangeiros.
Antes da reunião, havia grande incerteza no mercado sobre qual seria o posicionamento do BC para além do aumento de juros já sinalizado em reunião anterior, com alguns investidores projetando que os membros poderiam deixar a decisão de maio totalmente em aberto.
"O Comitê optou por colocar uma sinalização futura, indicando que fará uma alta de menor magnitude em maio e que para após a decisão de maio, seu ritmo de altas vai ser definido pela convergência das expectativas inflacionárias", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
"Essa perspectiva de que o Brasil terá aumento de juros na decisão de maio deve contribuir para a ampliação do diferencial de juros brasileiro", completou.
No entanto, a potencial força do real nesta sessão era ofuscada pelo avanço da moeda norte-americana no exterior, onde agentes financeiros ainda reagiam à decisão de juros do Federal Reserve na véspera.
O Fed manteve a taxa de juros inalterada na faixa de 4,25% a 4,50% nesta quarta-feira, como esperado, mas os membros indicaram que ainda preveem uma redução de 0,50 ponto percentual da taxa até o final deste ano, mesmo projetando um crescimento econômico menor para este ano.
Antes da reunião, operadores de futuros da taxa do Fed -- que têm se mostrado cada vez mais preocupados com a possibilidade de uma recessão nos EUA -- projetavam no mínimo dois cortes de juros este ano, com a possibilidade razoável de uma terceira redução.
Economistas, consumidores e empresários temem que as políticas do presidente dos EUA, Donald Trump -- que incluem tarifas, controle rígido da imigração e demissões em massa no governo -- possam prejudicar a atividade econômica.
"O Fed mostrou um cenário econômico mais desconfortável e pior para este ano, sinalizou como a incerteza está muito elevada, está difícil tentar fazer uma previsão confiável da evolução econômica do país neste momento", disse Mattos.
"Eles mantiveram a mediana das previsões de corte de juros em 2025, mas sinalizam que é um cenário mais desconfortável."
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,63%, a 104,030.
Para além dos receios em relação à economia norte-americana, investidores continuam receosos diante das incertezas geopolíticas em meio às negociações pelo fim da guerra na Ucrânia e da nova escalada das tensões na Faixa de Gaza.