A operação brasileira do mercado italiano de alimentos Eataly conseguiu barrar na Justiça mais uma ofensiva do grupo Caoa para tentar despejar a unidade da loja em que opera, na Avenida Juscelino Kubitscheck, região nobre da cidade de São Paulo.
Em decisão da quinta-feira, 3, o presidente da seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Heraldo de Oliveira, suspendeu um recurso obtido pelo grupo Caoa, proprietário do imóvel, no início de março para tentar valer o despejo. Em fevereiro, o grupo dono do mercado já havia conseguido uma vitória no mesmo sentido.
A expectativa por parte da defesa dos representantes do Eataly no Brasil é de que a suspensão ajude a trazer a Caoa para a mesa de negociação, caminho já rejeitado no passado. Segundo Odair Moraes Junior, sócio do Moraes Junior Advogados, que representa a companhia, os aluguéis dos três meses do ano foram pagos em dia e a dívida anterior está dentro da recuperação judicial.
Na disputa judicial com a Caoa, a operação local do Eataly tem tentado provar que o imóvel é essencial para a retomada do negócio. Em dificuldades financeiras, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial no fim do ano passado, com dívidas que somam cerca de R$ 50 milhões e vem travando na Justiça uma batalha para evitar a perda do ponto.
"A decisão da Justiça reforça que a desocupação inviabilizaria a recuperação da companhia, impactando diretamente as operações e resultando na rescisão imediata de diversos contratos de trabalho", afirmou a Eataly, em nota. Segundo a empresa, o mercado emprega 300 pessoas.
A crise financeira ganhou um novo capítulo no início deste ano, depois que a operação brasileira perdeu o direito de usar a marca Eataly, conhecida mundialmente. A representante local diz que a decisão não é definitiva e que o mérito ainda será analisado pelas instâncias competentes.
A retirada dos direitos de uso do nome Eataly foi decidida numa arbitragem entre o grupo italiano e a representante local, que tenta reverter a medida. Na loja, todas as referências ao nome tiveram de ser retiradas. O letreiro da fachada foi desmontado e tarjas passaram a cobrir menções à marca no interior.
No pedido de recuperação judicial, o grupo brasileiro diz que a crise financeira se deu como reflexo dos impactos da pandemia, além dos altos custos do aluguel e de importação dos produtos vendidos no mercado. A gestão atual diz ter injetado R$ 20 milhões para tentar equalizar os problemas da empresa.
"O Eataly reafirma sua dedicação à continuidade das operações e confia em um desfecho positivo para o processo judicial. A empresa segue focada no desenvolvimento e no crescimento sustentável do negócio, adotando todas as medidas necessárias para garantir a preservação de suas atividades", afirmou a empresa, em nota.
Conhecido por ser um dos mais tradicionais mercados de produtos italianos, o Eataly foi concebido em Turim, na Itália, em 2007, com o conceito de inovar na distribuição de itens agrícolas típicos do país europeu.
Hoje, está presente em ao menos dez países, em cidades como Paris, Chicago, Londres e Tóquio. O mercado virou um símbolo global por reunir itens como vinhos, massas e chocolates, além de restaurantes, sorveterias e cafés.