A parceria entre a política de Jair Bolsonaro e a proposta econômica liberal de Paulo Guedes foi decisiva para a bem-sucedida campanha presidencial de 2018. Só que, na cabeça do presidente, essa eleição já ficou bem lá para trás. Ele tem pensado mesmo é na disputa de 2022 e como pavimentar sua estrada para a reeleição. E, nessa caminhada, ao que tudo indica, a economia de Guedes parece combinar muito pouco.
Ao criticar e desautorizar publicamente as ideias de Guedes para a modelagem do Renda Brasil, Bolsonaro deixou claro que não concorda mais com o cardápio de opções que o ministro lhe tem apresentado.
Para custear o programa que Bolsonaro vê como importante para aumentar sua popularidade, Guedes sugeriu cortar coisas como Farmácia Popular, abono salarial, salário-família, seguro-defeso, deduções de gastos com saúde e educação no Imposto de Renda. Todas são medidas que atendem a setores da população. E, na linguagem política, capazes de dar ou de tirar votos. Bolsonaro, previsivelmente, barrou a iniciativa.
Guedes pode até acabar encontrando uma alternativa que agrade seu chefe e essa crise seja superada. Mas é nítido que alguma coisa mudou na relação entre os dois. Ainda não dá para dizer que o cristal trincou, mas a maneira de enxergar o governo parece ser cada vez mais diferente. Bolsonaro quer obras, inaugurações, programas populares. Guedes segue insistindo com sua agenda de ajuste fiscal, teto de gastos e de privatizações. Com as visões ficando diferentes, a parceria vai deixando de ter motivos para continuar.