Filas, tráfego, prazos descumpridos e atrasos de todo o tipo são parte do cotidiano brasileiro. Isso também é uma mostra, segundo a edição desta semana da revista britânica The Economist, da baixa produtividade do trabalhador brasileiro, que acaba por segurar o crescimento da economia. A produtividade do trabalhador brasileiro está estagnada há mais de 50 anos e o país precisa ser mais ágil e mais produtivo para voltar a crescer, segundo o texto, cujo título é "50 anos de soneca".
A reportagem, ilustrada com a foto de uma pessoa descansando em uma rede na praia, aponta, entre outros fatores para a baixa produtividade, os traços culturais do brasileiro. "Poucas culturas oferecem uma receita melhor para curtir a vida", afirma a revista, após citar empresários que relataram ter enfrentado dificuldades para contratar funcionários. Um deles, segundo a Economist, teria contratado 20 trabalhadores temporários para atuar em suas barracas de fast-food no festival Lollapalloza, em São Paulo, mas apenas dez apareceram.
Economias emergentes
A Economist lembra que o fator de produtividade no Brasil, que mede a eficiência do trabalho e do capital, é hoje pior do que a dos anos 1960. O semanário também compara o país a outras economias emergentes. Enquanto a produtividade do trabalho foi responsável por 91% da expansão do PIB chinês entre 1990 e 2012, e 67% do PIB indiano, no Brasil esse índice foi de apenas 40%, segundo estudo da consultoria McKinsey.
"O restante (do crescimento) veio da expansão da força de trabalho, como resultado de uma demografia favorável, da formalização e do baixo desemprego. Tudo isso vai desacelerar a 1% ao ano (de crescimento) na próxima década", diz uma fonte ouvida pela revista. "Para a economia crescer mais rápido, a um ritmo de 2% ao ano, os brasileiros precisarão ser mais produtivos", conclui.
Entre outras razões listadas pela revista para explicar a baixa produtividade do país estão os poucos investimentos em infraestrutura e a educação de baixa qualidade, problemas já conhecidos. A revista também cita o mau gerenciamento e a ineficiência de muitas empresas - muitas delas acostumadas ao protecionismo do Estado. "Ao invés de quebrarem, empresas frágeis sobrevivem graças a várias formas de proteção estatal, que acaba protegendo-as da competição", diz a revista.