Toda empresa deveria repensar seu negócio pelo menos a cada dois ou três anos. E, se for necessário, começar tudo do zero, trocando de casca, como dizia meu saudoso sócio Júlio Ribeiro.
É o que pelo menos as mais antenadas estão fazendo: movimentando-se para encontrar caminhos novos, superar os desafios e com isso se manter ativas, rentáveis e valorizadas.
Mudanças na economia, em tecnologia, no perfil dos consumidores, especialmente no dos jovens, contestando como sempre quase tudo e lutando por objetivos como qualidade de vida, consumo responsável, diversidade, meio ambiente e tantos outros têm gerado essa reação.
A velocidade nas mudanças é impressionante. Ou as empresas aceleram para acompanhar essas mudanças ou se tornarão irrelevantes ou com possibilidades de desaparecer em pouco tempo. E não é só o jovem que está mudando a postura; consumidores seniores e os da terceira idade também estão levantando essas bandeiras.
Hora de repensar o seu negócio
Essa atitude dos consumidores com certeza tem levado as empresas à necessidade de repensar seu business, seus produtos, sua visão de futuro, sua perpetuação e sua relação com os clientes, com seus consumidores e com seus funcionários.
Não importa o tipo de atividade, o tamanho ou a idade dessas empresas. Todas precisam, em algum momento, passar por processos de melhoria e transformação.
Empresas centenárias com produtos reconhecidos no mundo inteiro estão se mexendo para entender esse novo mercado e essas novas demandas, demandas essas nem tão novas assim, e fazendo mudanças com o objetivo de sobreviver e ter relevância, única forma de se manter no negócio.
O jornal Valor Econômico, na sua edição de 1º de março de 2021, publicou um especial sobre empresas centenárias. Foram várias páginas tratando do assunto. Destaco aqui pontos importantes, baseados, segundo o jornal, em estudos da empresa Gartner.
Segredos das empresas centenárias
- • Ajustam o portfólio de negócios, acompanhando os avanços econômicos, com fusões, aquisições e investimentos.
- • Investem em pessoas e líderes, capacitam funcionários e têm a meritocracia como fator-chave.
- • Sobre os desafios da jornada digital, elas promovem uma cultura interna e migram de um negócio tradicional lucrativo para um modelo centrado no cliente.
- • Têm visão de longo prazo, recorrendo a estudos de mercado, mas são cautelosas em cenários incertos.
- • Mantêm os clientes no centro das decisões, pois sabem que, se perderem o consumidor, levará mais tempo e dinheiro para recuperá-lo.
- • Inovam sempre, conduzindo mudanças tecnológicas e apostando na colaboração com outras empresas.
As vantagens das pequenas empresas
É possível que os empresários que estão lendo esse artigo estejam em outro patamar; não são centenários, nem são gigantes, mas suas demandas e necessidades são muito semelhantes às dessas grandes corporações, já que buscam o mesmo alvo: clientes corporativos ou consumidores, sua perpetuação e valorização no mercado em que atuam.
Empresas pequenas têm vantagens; elas são mais leves em função de sua estrutura e com isso conseguem inovar, mudar de rumo, com mais facilidade. Por outro lado, sofrem de um mal crônico: a falta de dinheiro para investir nessas mudanças, além, muitas vezes, de certa dificuldade dos sócios em entender essa necessidade de aprimoramento e mudança constantes.
Sobre o investimento para essas mudanças, de fato muita coisa custa dinheiro, porém, muitas outras não demandam desembolso e sim atitudes.
O foco precisa ser: olho no cliente, equipe de primeira linha, sócios comprometidos com o negócio e sua perpetuação, atenção à gestão financeira, investimento em tecnologia, inovação na forma de operar e na qualidade do produto a ser entregue, dos serviços ou dos manufaturados, e atenção especial às pessoas, o mais valioso ativo da empresa.
Problemas econômicos do Brasil
O Brasil vem passando por problemas econômicos e políticos há muito tempo. Com a Covid-19, a situação piorou. Isso prejudica muito nesse momento todo projeto de redesenho ou de mudanças no negócio, mas ao mesmo tempo o redesenho se torna imperativo.
Toda mudança envolve os funcionários e eles estão muito abalados emocionalmente, com perdas de renda, perdas de amigos e familiares e incertezas sobre seu emprego e sobre o futuro. Isso dificulta ainda mais os projetos de mudança.
Entendo, até por responsabilidade, que as empresas devem ter um olhar diferenciado neste momento. O afeto, a solidariedade, a compreensão, a generosidade, o abraço acolhedor vão ajudar em muito a superação dessa fase tão difícil. Melhorando o astral do funcionário, essa energia com certeza afetará positivamente a sua performance e com isso a empresa conseguirá estabelecer suas mudanças e objetivos com mais facilidade.
Não é momento de pressão para atingir metas, aliás pressão nenhuma é solução; a pressão deve ser evitada, embora metas sejam importantes. Tentar recuperar o tempo perdido em curto prazo pode não funcionar devido à fragilidade das pessoas nesse momento. É preciso lutar pelas metas, claro, mas talvez buscar essa recuperação gradualmente, de forma que em um ou dois anos os objetivos voltem aos patamares ideais.
Isso não impede a empresa de ficar atenta às oportunidades e de lutar por elas.
As turbulências, como sempre, passarão em breve. Porém deve-se ficar sempre atento, pois a cada cinco, seis anos aparece algum fato que desestabiliza tudo de novo. Nem todas as empresas conseguem se superar, por isso quebram.
Portanto, fique sempre alerta, como faz todo bom escoteiro
(*) Antônio Lino Pinto é consultor de gestão e autor dos livros “Pequenas agências, grandes resultados” (2011), “Abri minha agência, e agora?” (2013), “Gestão em agências de propaganda” (2017) e “Gestão para empreendedores” (2022).