Em discurso para uma plateia de empresários na sede Fiesp, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quinta-feira uma defesa da indústria brasileira e de sua importância para o país, e ao mesmo tempo fez uma aceno ao agronegócio, setor em que o atual governo tem encontrado dificuldades de diálogo.
No evento do Dia da Indústria promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Lula defendeu que o país tenha uma política industrial "ativa e altiva", mas sem tirar a importância do agronegócio.
"Tem muita gente que fala em crescimento industrial e relega a um lugar muito secundário o agronegócio, a exportação de commodities", afirmou.
"A gente quer que a indústria brasileira cresça, mas a gente quer que a exportação de commodities continue crescendo. O Brasil precisa ser exportador cada vez mais de grãos, cada vez mais de carne, cada vez mais das coisas que nós sabemos produzir. E isso não atrapalha a indústria", acrescentou.
Lula defendeu ainda que, para se ter uma indústria forte, é preciso ter "trabalhadores fortes, ganhando salário justo e podendo ser consumidor daquilo que produz".
O presidente também incentivou o investimento por meio de instituições financeiras, dizendo que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os bancos estatais "precisam colocar dinheiro no mercado", para atender os empresários menores.
Lula ainda fez uma defesa da política de seu governo em relação à Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Segundo ele, é de interesse do país que as exportações para o vizinho continuem crescendo.
"Mais do que querer ajudar a Argentina, queremos ajudar os exportadores brasileiros que querem vender para a Argentina", disse.
Citando sua viagem recente para o Japão, quando participou do encontro das sete maiores economias do mundo (G7), Lula pontuou que a perspectiva dos países em relação ao Brasil é, atualmente, melhor do que em seu primeiro mandato.
"As pessoas estão depositando expectativas no Brasil", disse.
NOVO ATAQUE AO BC
Durante o discurso, feito de improviso, Lula chegou a dizer que não trataria da política monetária -- algo que havia sido abordado em discursos anteriores no evento, inclusive pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin.
Pouco depois, no entanto, Lula voltou a subir o tom contra o Banco Central e disse que era uma "excrescência" a taxa básica Selic ser de 13,75% ao ano.
Nos últimos meses, Lula e aliados têm feito críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e ao BC por manterem a Selic em níveis considerados elevados. Campos Neto, por sua vez, tem alertado para os níveis ainda preocupantes da inflação.
Durante o evento, que começou pela manhã, vários participantes defenderam reiteradamente que uma reforma tributária seja realizada no país. Além disso, foi citada a importância da tramitação do novo arcabouço fiscal no Congresso.
No encerramento do evento, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ouviu um apelo por parte de Lula. "Pacheco, por favor: apresse as votações, porque o trem está apitando."
Pacheco afirmou que o Senado vai enviar o texto do marco fiscal para a sanção de Lula no decorrer de junho.
FIESP
Durante seu discurso, Lula também fez elogios ao atual presidente da Fiesp, Josué Gomes, que é industrial da área têxtil e filho de José Alencar, que foi vice-presidente nos dois primeiros mandatos do petista.
Em janeiro, pouco depois de Lula ter assumido a Presidência para seu terceiro mandato, Josué Alencar enfrentou um processo de destituição, posteriormente revertido, em um momento de acirramento da disputa interna na federação, que durante o governo anterior chegou a ser vista como uma entidade bolsonarista.
Nesta quinta-feira, Lula disse ter "alegria" por Josué ser o presidente da Fiesp.
"Eu conheci muitos presidentes da Fiesp, desde 1975, e posso te dizer uma coisa: a Fiesp precisava de um empresário do teu tipo", disse Lula. "Um cara moderno, um cara corajoso, um cara que tem a vida dentro da empresa."