A trajetória de Orlange Silva, de 47 anos, prova que empreender muitas vezes está mais relacionado a atitudes do que a qualquer conceito ou termo técnico ensinado em curso de ensino superior. "Cresci em uma cidadezinha de Sergipe. Éramos uma família muito grande e sempre tivemos muitas dificuldades financeiras, mas nunca deixamos isso atrapalhar nossos sonhos."
Morando com 9 irmãos no interior do Sergipe, Orlange teve que aprender desde cedo a se virar para poder sobreviver. Foi na fazenda da família, no município de Santa Luzia do Itanhy, que, com apenas 14 anos, ela aprendeu os primeiros passos sobre empreendedorismo.
"Minha mãe dividia eu e nossos irmãos em tarefas durante a plantação de milho e arroz. Ali, eu comecei a aprender sobre negócios. A gente também ajudava a vender o que nós colhíamos. Todos nós ajudávamos em casa."
Após passar parte da adolescência trabalhando na fazenda com a família, ela resolveu, aos 18 anos, ir atrás de novas oportunidades de trabalho em Aracaju, capital de Sergipe. "Eu peguei gosto por essa coisa de trabalhar por conta própria. Então, resolvi ir para a capital tentar arrumar uma forma de ter meu próprio negócio. Mesmo sem estudo, fui sem nada."
Na capital, Orlange, que sempre gostou de cozinhar, decidiu começar a vender doces em uma região próxima a diversos colégios e escolas. A ideia deu certo e, em pouco tempo, ela conseguiu abrir o próprio ponto de venda.
"Aproveitei que gostava de fazer doces e decidi fazer algo sobre isso. Achei um local com muitos estudantes e passava o dia inteiro vendendo doces e lanches. Em alguns meses, já tinha dinheiro pra abrir um ponto de venda."
Reviravolta
Quando tudo parecia estar indo bem, uma gravidez inesperada mudou momentaneamente sua vida profissional. "Eu acabei engravidando e o pai do meu filho abandonou a gente. Foi muito difícil, eu tive que parar de trabalhar e fechar a loja por um tempo para cuidar dele. Hoje, meu filho tem 19 anos."
Durante este período, Orlange retornou para Santa Luzia do Itanhy, mas não desistiu e reabriu o ponto de venda de doces e lanches que havia fechado em Aracaju por conta da gravidez.
8 casas
Com o lucro do empreendimento, a empresária começou a investir em diversos imóveis na região, comprando mais de 8 casas em um período de 6 anos. "Qualquer dinheiro que eu ganhasse eu juntava e juntava. Quando tinha uma boa quantia, comprava à vista uma casa e colocava o imóvel para alugar. Fiz muito isso."
A empresária não parou por aí. Utilizando os rendimentos dos aluguéis provenientes dos imóveis, ela investiu ainda mais e expandiu seus negócios, abrindo não só uma loja de doces maior, mas também um mercado e uma loja de roupas.
Quando questionada sobre com quem ou onde aprendeu tanto sobre empreendedorismo, ela é objetiva: "Com a vida."