Nos últimos anos, o conceito de empreendedorismo periférico vem se destacando pelo seu papel de transformação em comunidades de grandes cidades do mundo. Segundo uma pesquisa realizada pelo Sebrae e pelo IBQP (Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade), o Brasil é o 7º país com o maior número de pessoas empresárias.
Ligado a isso, muita gente ainda acredita que abrir um negócio próprio está conectado com os grandes centros urbanos e investimentos financeiros de alto valor, ignorando o fato de que uma grande parcela dos empreendimentos brasileiros começam nas periferias, favelas e bairros mais afastados.
Usando a criatividade para buscar novas formas de empreender e, ao mesmo tempo, agregar valor social às iniciativas, os projetos de empreendedorismo na periferia são um excelente exemplo de capacidade de inovação em cenários desafiadores.
Diante dos desafios econômicos, sociais e ambientais que enfrentamos, o empreendedorismo periférico pode servir como inspiração para quem busca fazer a diferença com suas ideias empreendedoras.
Por isso, a seguir, explico a importância do empreendedorismo periférico no Brasil e os principais desafios enfrentados pelos projetos considerados referência no assunto.
A importância do empreendedorismo periférico no Brasil
No Brasil, as ações de empreendedorismo periférico começaram a se destacar nos anos 1990, em uma época de redução dos investimentos do Estado brasileiro nas periferias. Para suprir necessidades e carências das comunidades, as pessoas residentes desses lugares passaram a se organizar e criar pequenos negócios.
Desde então, muitos projetos surgiram, a partir das vocações de diferentes pessoas motivadas a empreender e ajudar a transformar a realidade das comunidades em que vivem.
Algumas das áreas mais contempladas pelas atividades do empreendedorismo periférico são: a geração de renda, educação de jovens e adultos, valorização cultural, preservação do meio ambiente, profissionalização e a proteção à infância.
Com isso, os projetos conseguem interferir diretamente na realidade das pessoas que mais precisam e melhorar as condições de vida da comunidade como um todo.
Quais os principais desafios?
As dificuldades de quem busca empreender na periferia não são as mesmas de quem empreende em outros contextos sociais.
Em 2021, uma pesquisa realizada pelo Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo mostrou como as desigualdades sociais refletem no empreendedorismo realizado em comunidades periféricas.
Os resultados apontaram que esses negócios têm, em média, 37 vezes menos capital do que os realizados fora das periferias. Já as receitas obtidas são, em média, 21 vezes menores em empresas periféricas.
Do mesmo modo, ao longo de suas jornadas, pessoas empreendedoras da periferia e da Base da Pirâmide (BdP) enfrentam muitos entraves, o que segue aprofundando a desigualdade social. Ainda de acordo a pesquisa da FGV, pessoas da periferia sofrem de forma acentuada a dificuldade de acesso a quatro tipos de capital:
- • Financeiro;
- • Humano;
- • Psicológico;
- • Social.
Essas especificidades são necessárias porque muitas vezes, diferente de empreender um negócio inovador, em que há um incentivo pelo erro rápido e muitos testes, quem empreende na periferia, normalmente, conta com poucas ou uma única chance de fazer dar certo. Logo, tais formas de apoio são também fundamentais.
Além disso, outra camada envolvendo desafios se dá na adaptação do empreendedorismo periférico à transformação digital pela qual a nossa sociedade passou nos últimos anos. Hoje, é fundamental integrar a atuação dos negócios ao contexto da tecnologia para elevar o seu potencial de impacto nas comunidades.
Nesse cenário, o surgimento de inúmeras startups de sucesso nos últimos 10 anos serve de inspiração para projetos de empreendedorismo periférico. As startups obtiveram reconhecimento justamente por aliar tecnologia e inovação para superar a falta de capital de investimento inicial, além do impacto social que querem causar.
(*) Adriano Morais é pós-graduado em Marketing e Negócios Digitais pela Be Academy e formado em Gestão Comercial. É líder da unidade de negócio de empreendedorismo periférico na Semente.