O empreendedorismo feminino emerge como um catalisador para o desenvolvimento econômico e social no mundo. Apesar do aumento no número de mulheres empreendedoras e exercendo a liderança em organizações, a velocidade desse avanço está longe de ser suficiente para promover uma mudança estrutural.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Sebrae, mais de 10 milhões de mulheres exercem um papel crucial no cenário empreendedor brasileiro. São mulheres que enfrentam desafios comuns como a falta de acesso a fóruns decisórios, recursos financeiros e redes de contatos, somados aos estereótipos de gênero que erguem barreiras significativas.
Essa realidade impacta a decisão de muitas mulheres, por opção ou necessidade, em não assumir novas funções e candidatar-se a novas vagas. Além delas, tem toda uma outra parcela fora do mercado por escolha ou por falta dela, que exerce um papel não dividido e nem contabilizado de cuidados domésticos e de criação dos filhos.
De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), o fechamento das lacunas de gênero na participação no mercado de trabalho poderia aumentar o PIB regional em 6,9% caso houvesse melhor divisão de tarefas de cuidado entre 2016 e 2030.
Enquanto isso, observamos organizações focadas em resultados de curto prazo, sem uma visão clara de seus horizontes de inovação, permanência no mercado e sem entender a correlação dessas pautas. Essa abordagem resulta em empresas sem planos de diversidade consistentes, sem experimentação de diferentes métodos de trabalho, ainda centrados em indicadores de esforço, não de resultados.
Estrutura para apoiar as mulheres
A maioria das empresas carece de horários flexíveis ou estruturas para apoiar as mulheres, calculando apenas o custo imediato da licença maternidade, negligenciando o custo de longo prazo (e de oportunidade) de ter uma empresa inovadora.
Segundo a McKinsey, equipes diversas possibilitam um aumento de 30% na resolução de problemas e inovação nos negócios, bem como melhores resultados. A consultoria também aponta que um time executivo diverso em termos de gênero têm 34% mais chances de serem lucrativas.
Milhares de brasileiros estão sem o nome do pai na certidão, e não temos dados exatos sobre aqueles que têm esse registro, mas não participam da criação dos filhos. Para a maioria das empresas, a ideia de família não se alinha ao trabalho, apesar de todos fazerem parte de uma. Como resultado, apenas 17% das empresas brasileiras têm mulheres na presidência e, na outra ponta, a maioria dos pequenos negócios iniciantes são compostos por mulheres empreendendo por necessidade.
Essa disparidade reforça a importância de políticas e práticas que promovam a equidade de gênero nas organizações. Têm se mostrado eficazes iniciativas que fomentem a educação empreendedora, políticas públicas inclusivas, projetos de aceleração de negócios liderados por mulheres, programas eficazes de inclusão da diversidade em todas as camadas das empresas, fundos de investimento e programas específicos para fundadoras, além do estímulo à criação de redes de apoio.
O empreendedorismo feminino no Brasil e a presença de mulheres em posições de decisão representam forças impulsionadoras de inovação e crescimento econômico. Superar esses desafios requer esforços contínuos de toda a sociedade, incluindo governos, empresas, comunidade empreendedora e os líderes atuais. Ao criar um ambiente mais inclusivo, podemos potencializar o impacto positivo e promover uma transformação duradoura.
Esta é uma estratégia de negócio. Podemos iniciar por onde temos dados para comprovar: ter mais mulheres em cargos de liderança e à frente de negócios. É mais rentável. É mais eficiente. É mais próspera.
(*) Alline Goulart é diretora de inovação na Semente, empresa que desenha soluções de inovação que valorizam a vida.