As empresas não estão conseguindo medir adequadamente o impacto ambiental gerado por modelos de inteligência artificial generativa, ou seja, aqueles que geram textos, imagens, áudios e vídeos, como o ChatGPT e o Midjourney. A conclusão é do relatório Developing Sustainable Gen AI ("Desenvolvendo IA Generativa Sustentável, em tradução livre), realizado pela consultoria Capgemini. O mesmo estudo aponta, no entanto, o otimismo de gestores para que a tecnologia ajude a melhorar a eficiência na produção. A IA necessita de muita energia elétrica e outros recursos, como água, para funcionar.
A pesquisa foi realizada em 12 setores da economia e em 15 países, incluindo o Brasil, com 2 mil executivos que trabalham em empresas com receita acima de US$ 1 bilhão por ano. Em outubro de 2024, a utilização da IA generativa chegava a 24% das companhias, porcentual quatro vezes maior do que apenas dez meses antes, em dezembro de 2023, quando apenas 6% se aproveitavam da tecnologia.
Quase metade dos executivos (48%) acredita que utilizar a inteligência artificial aumentou as emissões de gases de efeito estufa, os que causam o aquecimento global. No entanto, apenas 12% dos executivos que utilizam a IA generativa afirmam que a sua organização mede a pegada ambiental do uso, e somente 38% afirmam estar conscientes desse impacto ambiental.
Para os executivos, a principal função da IA generativa é ajudar a aumentar a eficiência na produção: 60% dos brasileiros priorizam o uso em resultados organizacionais para impulsionar eficiências, em vez de seu impacto ambiental, número próximo à média global de 58%. "O ganho de curto prazo, seja no custo, seja na receita, é o principal fator na tomada de decisão sobre a utilização das IAs", afirma Emanuel Queiroz, VP de Sustentabilidade e Soluções em Nuvem da Capgemini Brasil.
No entanto, para Queiroz, a IA pode ajuda a compensar o gasto energético justamente com a eficiência. "Utilizar a IA pode reduzir o consumo de energia, mesmo após aumento inicial, de matéria prima e de tempo. Através do processamento de dados que possibilitam exploração de alternativas mais produtivas para a cadeia de suprimentos e processos de produção", comenta.
Por exemplo, a IA generativa pode ser utilizada para interpretar dados e localizar vazamentos de energia e água e consertá-los. Também pode ajudar na calibração de equipamentos como ar-condicionado, geladeiras, motores e iluminação através de ajustes de temperatura, pressão e velocidade.
Ainda assim é necessário prestar atenção ao gasto energético e a outros indicadores ambientais. "Ainda hoje cerca de 40% da população não tem acesso a energia e água nos níveis indicados pela ONU. Com o aumento de consumo pela tecnologia, a oferta é ainda mais insuficiente. No entanto, a própria IA traz parte da solução com identificação de perdas e vazamentos", cita Queiroz. Uma solução para as companhias que quiserem medir o tamanho do gasto extra é pela variação no consumo de energia e demanda por novos equipamentos de TI que tem uma pegada de carbono importante em componentes e matérias prima.
Segundo a pesquisa, 42% das empresas ouvidas tiveram que rever as metas climáticas que haviam divulgado. O especialista atribui isso a uma falta de "pontos de controle" de curto prazo, enquanto os impactos previstos para as mudanças climáticas se anteciparam e o prazo se aproximou.
Como diminuir o gasto energético
Para as empresas, é fundamental avaliar se o retorno do investimento em adquirir um serviço de inteligência artificial vale a pena, e se ameaça o cumprimento das metas ambientais. O relatório da Capgemini sugere a adoção de outras tecnologias que possam ter resultados parecidos com o da IA, se possível.
Além disso, sistemas que já são projetados visando reduzir o gasto energético ou utilizar apenas fontes de energia renováveis podem manter a pegada ecológica baixa. Por isso, é importante pensar em práticas sustentáveis ??para serem implementadas ao longo de todo o ciclo de vida da IA incluindo hardware, arquitetura de modelo e fontes de energia.
"Tecnologias como computação de borda, Cloud e Data Centers mais eficientes, assim como uma estratégia de dados que otimiza o armazenamento de informações. Todo o ciclo de vida de um Data Center desenhado e operado de maneira eficiente do ponto de vista ambiental tem pegada até 70% menor", diz Queiroz. Ele cita também que sistemas resfriados por túneis de vento ou submersos em águas marinhas, naturalmente geladas, e projetado com eco-design podem trazer ganhos ambientais e de performance.
Por sua vez, o setor público pode obrigar as empresas a considerar o gasto energético em suas previsões financeiras através de encargos e sobretaxação pelo aumento do consumo de energia, e reforçar a circularidade evitando descarte incorreto de resíduos eletrônicos. Quase dois terços (62%) dos executivos acreditam que barreiras de proteção e governança robustas podem efetivamente mitigar o impacto ambiental da IA ??generativa.
No final, todo ganho de produtividade gerado pela inteligência artificial precisa ter um benefício igual para o mundo, tornando os negócios realmente sustentáveis para o meio ambiente e para a resiliência das companhias. "Eficiência é sustentabilidade, e a maior medida é a perenidade e o sucesso dos negócios", resume Queiroz.