Funcionários terceirizados da Enel revelaram que possuem metas diárias de cortes de energia elétrica para receber bônus. O benefício varia de R$ 500 a R$ 1 mil por mês (dependendo da empresa), além do salário bruto de R$1.500.
Em entrevista à TV Globo, um funcionário da terceirizada PSC Alpitel -- que não quis se identificar -- disse que, nas últimas semanas, a empresa elevou de 25 para 30 o número de cortes de luz diários que cada equipe da empresa precisa fazer para conseguir ganhar um bônus mensal.
“Quando eu entrei eram 25 cortes para alcançar a meta. Aumentaram para 30 cortes. A gente chegou a questionar a empresa dizendo que 25 cortes já era difícil, que dá muita confusão, mas o supervisor disse que se não fizer 30, a empresa não paga a bonificação pra gente”, afirma um colaborador.
Homicídio
Funcionário da terceirizada, Odail Maximiliano Silva Paula, de 27 anos, foi morto na quarta-feira, 13, pelo dono de uma academia na Vila Marieta, na Zona Leste da capital paulista, ao tentar cortar a energia do estabelecimento por falta de pagamento. O autor do crime foi o educador físico Randal Rossoni, de 44 anos.
Um eletricitário confessou que a morte do colega de profissão, além do assédio moral para o cumprimento das metas, o motiva a abandonar a profissão. "É um fato que mexe muito com a gente e eu, sinceramente, tô pensando em sair fora."
Rotina de ameaças
Outro trabalhar cuja identidade não foi revelada para preservar sua segurança narra uma rotina de constantes ameaças nas ruas. “Já fui agredido três vezes fazendo cortes. Numa das vezes, cortei e fui para o carro. E o dono do lugar me empurrou e nós dois saímos no braço em frente ao local. Eu me machuquei, nós caímos no chão”, contou.
Procurada pelo Terra para se defender das denúncias, a Enel Distribuição São Paulo disse, em nota, que respeita o movimento dos eletricistas e reforça seu compromisso com a segurança de todos os seus colaboradores e parceiros. (Confira nota abaixo)
Os trabalhadores que atuam em campo são orientados e têm o apoio da distribuidora para suspenderem suas atividades caso constatem qualquer situação de risco durante a realização do trabalho. Essa orientação é repassada em treinamentos periódicos, que serão intensificados. Essa semana a companhia promoveu uma palestra para os eletricistas com especialista em violência urbana. A distribuidora também mantém diálogo e troca constante com as autoridades policiais para apoio na realização de suas atividades.
A companhia reconhece os desafios diários da operação enfrentados pelos técnicos e eletricistas e o esforço de cada um dos parceiros envolvidos nessas atividades. A distribuidora reitera seu repúdio ao ato injustificável de violência cometido na última quarta-feira (13.03) que levou a morte do eletricista Odail Maximiliano Silva Paula e solidariza-se com a dor de seus parentes e amigos.
A reportagem também entrou em contato com o Sindicato dos Eletricitários de SP para saber sobre as metas de cortes, mas ainda não obteve resposta. Se o fizer, o texto será atualizado.
Caso Odail
O empresário Randal Rossoni, de 44 anos, foi preso sob acusação de assassinar o funcionário Odail Maximiliano Silva Paula, de 27 anos, da empresa PSC-Alpitel, terceirizada da Enel, após ter a energia elétrica cortada no seu estabelecimento comercial, a academia Rossoni Fitness.
O desentendimento que motivou o crime teria começado na academia, localizada na Rua Antonio Carlos Lamego, 148, após a vítima iniciar o procedimento para desligamento da energia elétrica, motivada pela ausência de pagamentos. Ele foi morto a tiros pelo educador físico e dono do estabelecimento.