O mercado de trabalho está passando por transformações marcadas por fenômenos como quiet quitting e quiet hiring, refletindo a tensão entre colaboradores e empresas.
Nos últimos anos, estamos testemunhando uma transformação no mercado de trabalho, marcada por fenômenos como o quiet quitting e o quiet hiring, que refletem a tensão entre colaboradores e empresas. O termo quiet quitting, que descreve quando um profissional se limita a cumprir apenas o mínimo necessário, ilustra uma insatisfação silenciosa e, muitas vezes, um grito por equilíbrio. Ao invés de se dedicar além do esperado, esses colaboradores priorizam o próprio bem-estar, entregando apenas o essencial e rejeitando o modelo de comprometimento 24/7. Este fenômeno não é apenas um ato de desmotivação, mas uma reação legítima a culturas organizacionais que falham em oferecer reconhecimento e propósito.
A pandemia foi um divisor de águas. Trouxe a qualidade de vida e o propósito para o centro da conversa e revelou um fato claro: o modelo antigo de trabalho não é sustentável. No passado, a ideia de "vestir a camisa" da empresa era vista como o caminho para o sucesso profissional. Hoje, essa visão é contestada, especialmente quando o retorno em reconhecimento e desenvolvimento é insuficiente. O quiet quitting pode ser visto como um protesto silencioso contra um modelo de trabalho que muitas vezes consome demais e devolve de menos.
Como resposta a essa realidade, algumas empresas começaram a adotar o quiet hiring – uma estratégia que busca preencher lacunas internas sem necessariamente realizar novas contratações. Nesse modelo, profissionais já empregados assumem novas responsabilidades e desafios, o que pode ser vantajoso em empresas que promovem oportunidades de desenvolvimento real e alinhado com os interesses do colaborador.
No entanto, quando essa prática não é acompanhada de transparência e reconhecimento justo, o quiet hiring pode se transformar numa sobrecarga velada, onde os colaboradores recebem mais tarefas sem ajuste salarial ou promoção, o que acaba ampliando a insatisfação e potencialmente alimentando o ciclo do quiet quitting.
O desafio, então, é criar um equilíbrio onde o quiet hiring funcione como uma oportunidade e não como exploração. Para isso, é fundamental que as empresas sejam transparentes sobre suas expectativas e ofereçam feedback constante, treinamento e um plano de desenvolvimento justo. Além disso, elas precisam construir uma cultura organizacional em que o colaborador seja verdadeiramente valorizado – não apenas como recurso, mas como indivíduo com necessidades e aspirações próprias.
O engajamento não é algo que se compra ou se impõe. Ele se constrói com ações que reforçam a confiança e o reconhecimento mútuo. Empresas que entendem essa realidade e investem no bem-estar e desenvolvimento de seus colaboradores estão um passo à frente. São essas empresas que conseguem criar um ambiente de trabalho motivado e leal, onde fenômenos como quiet quitting e quiet hiring não se tornam práticas necessárias, mas sim exceções em uma cultura de trabalho sustentável e inspiradora.
(*) Gabriel Gatto é colunista no Homework, especialista e consultor em RH há mais de 15 anos. Possui pós-graduação em Gestão de Pessoas e Psicologia Organizacional, com MBA em Liderança e Gestão. Gabriel Gatto foi reconhecido como o melhor tech recruiter em 2023 e eleito o número 1 RH influencer do Brasil pela Go Integro.