O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou, pela sexta vez consecutiva, por manter a taxa Selic em 13,75%, conforme divulgado nesta quarta-feira, 3. A decisão veio mesmo com uma forte pressão por parte do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pela redução do índice.
As reuniões do Copom pela manutenção da Selic acontecem a cada 45 dias e a próxima está prevista para acontecer entre os dias 20 e 21 de junho. Isso significa que, pelo menos até lá, a Selic continua no patamar dos 13,75% — número que está em vigência desde 4 de agosto do ano passado.
A última vez em que a Selic teve um valor mais alto que esse foi no ciclo de 19 de outubro de 2016 até 30 de novembro de 2016, quando o índice foi a 14% ao ano.
Críticas de Lula
Lula é um forte crítico do ciclo de alta da Selic e faz, desde o início de seu mandato, uma forte pressão pública contra o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto, pela redução do índice.
Em discurso no ato das centrais sindicais paulistas, na segunda-feira, 1º, o presidente culpou a Selic pelo desemprego no País, que voltou a crescer no último trimestre.
"A gente não poder viver mais em um país aonde a taxa de juros não controla a inflação, ela controla, na verdade, o desemprego nesse país porque ela é responsável por uma parte da situação que nós vivemos hoje", declarou Lula na ocasião.
O que é a Selic e por que Lula quer reduzi-la?
A Selic, considerada a taxa básica de juros da economia brasileira, é referência para todas as taxas de juros do mercado brasileiro. Ela é o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação. Ou seja: quando os juros sobem, os financiamentos, empréstimos e pagamentos com cartão se tornam mais caros, o que desencoraja o consumo e, por consequência, estimula a queda na inflação.
Por outro lado, se a economia está desaquecida e o BC reduz os juros, isso torna os empréstimos mais baratos e incentiva o consumo.
Lula quer, então, que a taxa Selic seja reduzida para que a população volte a consumir e a economia se aqueça novamente. Com isso, o desemprego também cai, já que as empresas terão uma demanda maior por funcionários e mais dinheiro disponível para investir em crescimento.
Sem surpresas
Analistas e economistas, no entanto, já esperavam que a Selic fosse mantida em 13,75%. Muitos ainda não concordam com os apelos políticos de Lula.
Para Luiz Felipe Bazzo, CEO da corretora de câmbio transferbank, as trocas de farpas entre Lula e Campos Neto dificultam o debate técnico sobre o assunto da manutenção da Selic. "O mais importante nesse debate de juros é o custo efetivo do crédito para pessoa física financiar o seu consumo e para a pessoa jurídica financiar ou seu capital de giro ou os seus investimentos", aponta.
Esse debate, na visão do analista, tem ficado à margem da política em torno da Selic. Os mais beneficiados com o ciclo de alta, conforme Bazzo, são os bancos e exportadores, enquanto os mais prejudicados são os setores imobiliário e varejo.
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) divulgou uma nota apontando que, nos atuais patamares, "os juros altos são entraves ao desenvolvimento econômico, social e principalmente à geração de empregos no Brasil".
Segundo a associação, nos níveis atuais, a despesa com juros bancários compromete a saúde financeira das empresas, que ficam impossibilitadas de crescer e com dificuldades de arcarem com suas despesas obrigatórias.
O que diz o Copom?
No comunicado divulgado pelo Copom, a decisão foi tomada avaliando os cenários, balanço de riscos e outras informações disponíveis. "O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024", justificou no comunicado.
O Comitê destacou a "incerteza" sobre as regras fiscais do governo Lula como um fator de alto risco, bem como as pressões inflacionárias globais.
"Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos".