De um lado, um ex-professor de economia marxista, especialista em jogos de teoria e cujo estilo é vestir camisa sem gravata e uma jaqueta de couro. Do outro, um advogado conservador com um grande pedigree político e uma crença firme em austeridade.
Da aparência às posições que têm, pode-se dizer que Yanis Varoufakis e Wolfgang Schaeuble não combinam. E a novela sobre a ajuda à Grécia evidenciou a falta de entendimento entre os dois.
Quando ambos se encontraram pela primeira vez em Berlim, há duas semanas, as rusgas apareceram imediatamente.
Schaeuble disse que ele e Varoufakis tinham "concordado em discordar" sobre qual estratégia a Grécia deveria adotar. O grego respondeu: "Do meu ponto de vista, não pudemos nem mesmo concordar em discordar".
O impasse persistiu por dias - e o ministro de Finanças alemão tornou-se figura odiada na Grécia.
Nos protestos, imagens de Schaeuble em uniforme nazista eram exibidas em cartazes. Manifestantes o chamavam de arquiteto das desgraças da Grécia, pelo seu compromisso inabalável com a austeridade.
A imprensa alemã não deixou passar batido, e os estereótipos de gregos grosseiros e alemães draconianos só alimentaram a hostilidade. O próprio Schaeuble considerou uma montagem recente dele como "perversa".
Nesta terça-feira (24), um novo capítulo do impasse. A Grécia divulgou uma lista das reformas exigidas pela zona do euro em troca da extensão da ajuda.
As medidas incluem planos de combate a corrupção, evasão fiscal e contrabando de combustível e tabaco. As propostas deverão, agora, ser aprovadas por credores internacionais para que haja uma extensão de quatro meses de um empréstimo.
Analistas dizem que o fracasso deste acordo poderá reacender temores de uma eventual saída da Grécia da zona do euro.
Choque de estilos
Levando em conta que o partido que muitas vezes liderou os protestos antiausteridade - o Syriza - chegou ao poder na Grécia, era inevitável que as relações fossem difíceis desde o início. E nas primeiras semanas do Syriza no poder, os estilos de negociação de Varoufakis e Schaeuble colidiram.
O grego culpou publicamente os ministros das Finanças alemão e holandês por causarem o fracasso das conversas.Acredita-se que sua comitiva tenha vazado rascunhos de documentos para provar que a Grécia tem sido tratada de forma injusta. E ele foi ao Twitter para expressar posições que outros políticos fariam em comunicados à imprensa cuidadosamente redigidos.
Já Wolfgang Schaeuble parece ter se irritado pelo estilo. Houve até mesmo pedidos de um parlamentar alemão para que Varoufakis fosse substituído.
Mas, na Grécia, o negociador-chefe do país tem uma base de fãs sólida. Muitos amam seu jeito direto e sua imagem 'cool', com seu cachecol Burberry e metáforas extravagantes.
Ele certamente criou um estilo único de fazer política - e nenhuma animosidade com Wolfgang Schaeuble deverá mudar isso.
Seus críticos argumentam que agora é hora de a Grécia conquistar concessões por meio da diplomacia cuidadosa e a delicada construção de alianças. E, dizem, Yanis Varoufakis é um personagem áspero demais para fazer isso.
Ele com certeza tem seus admiradores - mas Wolfgang Schaeuble não parece ser um deles.