Ao menos 60 funcionários fizeram parte de práticas irregulares para acobertar a fraude bilionária da Americanas. A lista foi apurada pelo Estadão/Broadcast, em contato com fontes ligadas à empresa. Nesta quinta-feira, 27, a Polícia Federal deflagrou a Operação Disclosure, em que cumpre mandados de prisão de executivos suspeitos de atuarem nas fraudes bancárias.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
As fontes ouvidas pelo jornal detalharam que muitos executivos passavam mais tempo tentando esconder as irregularidades do que, de fato, trabalhando na gestão da empresa. A Americanas se defende afirmando que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria.
A nova gestão, que também investiga as fraudes internamente, pode buscar um ressarcimento bilionário frente aos antigos diretores. Em depoimento à CPI das Americanas, foi informado que, em 10 anos, a diretoria da empresa recebeu R$ 700 milhões em salários e bônus. Comprovado que os resultados foram forjados propositalmente, as remunerações variáveis pagas com base no desempenho falso teriam de retornar ao caixa da Americanas.
Na apuração interna, que se estendeu por 17 meses, executivos foram chamados para prestar depoimentos e, ainda de acordo com o Estadão/Broadcast, alguns apresentaram resistência. Mas o ex-presidente do grupo, Miguel Gutierrez, que teve hoje o pedido de prisão decretado, está entre os que teriam colaborado com o processo, com três depoimentos e cerca de 16 horas de gravação.
Operação Disclosure
A Operação Disclosure foi deflagrada nesta quinta-feira, 27, pela Polícia Federal. De acordo com as autoridades, o objetivo é esclarecer a suposta participação de ex-executivos da Americanas em fraudes contábeis que chegam a R$ 25,3 bilhões.
Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Além dos pedidos de prisão, e 15 mandados de busca e apreensão, a Justiça Federal também determinou o sequestro de bens e valores destes ex-diretores que somam mais de meio bilhão de reais. Segundo o Ministério Público Federal, as prisões não foram cumpridas devido aos suspeitos estarem fora do País.
O MPF informou que a operação é fruto de investigação iniciada em janeiro de 2023, após a empresa ter comunicado ao mercado a existência de inúmeras inconsistências contábeis e um rombo patrimonial estimado, inicialmente, em R$ 20 bilhões. Pouco tempo depois, o MPF foi procurado pela atual diretora da empresa, que ajudou nas investigações.
A apuração das autoridades aponta que foram praticadas operações de risco sacado, na qual a varejista consegue antecipar o pagamento a fornecedores por meio de empréstimo junto aos bancos.
Ainda segundo a PF, foram identificadas fraudes envolvendo contratos de verba de propaganda cooperada (VPC), que são incentivos comerciais geralmente utilizados no setor. No entanto, neste caso, eram contabilizadas VPCs que nunca existiram.
“A investigação revelou ainda fortes indícios da prática do crime de manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, também conhecido como "insider trading”, associação criminosa e lavagem de dinheiro”, afirmou a PF em nota.