Ao contrário do que ocorreu até 2008, nos últimos anos a inflação "dos pobres" brasileiros teria sido maior que a "inflação dos ricos" segundo o economista Fábio Ferreira da Silva, membro do Conselho Federal de Economia.
A pedido da BBC Brasil, Silva atualizou os dados de um estudo que havia feito em 2011 para entender como a alta de preços afetava diferentes faixas de renda da população em diferentes regiões do país.
Na época, o pesquisador havia analisado o período de 1995 a 2008 e concluído que, depois do Plano Real o Brasil teve uma inflação "pró-pobre" - ou seja, os preços dos produtos e serviços que têm um peso maior no orçamento das famílias de baixa renda teriam aumentado menos que os dos itens de maior peso para as famílias ricas e de classe média.
Segundo seus cálculos, porém, desde 2009 tem havido uma reversão dessa tendência - com uma inflação pró-ricos.
"Pelo quinto ano consecutivo, a inflação dos pobres é mais alta que a média - uma tendência diferente daquela que se observou em anos anteriores", diz Silva.
Em 2014, por exemplo, enquanto a inflação no Centro Sul teria sido de 6,4%, os pobres da região teriam sentido uma alta de preços de 6,8%.
Já no caso do Nordeste, enquanto a inflação média teria sido de 6% no ano passado, para a classe baixa a alta foi de 6,4% e para os ricos, de 5,5%.
De acordo com o estudo inicial do economista, publicado na revista Economia Aplicada, de 1995 a 2008 o Brasil teve uma inflação média de 8% ao ano.
No período, a alta de preços no Nordeste teria sido de 7,4% para os pobres, 7,9% para a classe média e 8,3% para a classe alta. No Sudeste, a inflação teria sido de 7,8% para os pobres, 8,1% para a classe média e 8,2% para os ricos.
Já o novo levantamento indica que desde 2009, a inflação média foi de 5,8%.
No Nordeste, a alta teria sido de 6,2% para os pobres, 5,7% para a classe média e 5,1% para a classe alta. E no Sudeste, de 6,1% para os pobres, 5,8% para a classe média e 5,7% para os ricos.
Causas
Segundo Silva, essa mudança de tendência se deve a pelo menos dois fatores. O primeiro seria a alta combinada dos alimentos e do item habitação - de grande peso para famílias de baixa renda.
"Os alimentos em domicílio têm maior peso na cesta dos pobres, e seus preços subiram, em média, 7,9% em 2014 devido principalmente a choques de oferta", diz o economista.
No caso dos alimentos, os preços teriam sido impulsionados em 2014 pela seca e, nos últimos anos, pelo aumento da demanda no mercado internacional.
"Já o grupo habitação – que também tem maior peso entre os mais pobres – teve inflação de 9,2%, influenciado pela energia elétrica residencial."
O segundo fator por trás da mudança de tendência da inflação seria a desaceleração do grupo transporte, de maior peso para famílias de renda alta.
"Em 2014, por exemplo, esse grupo - que inclui despesas com veículo próprio, como combustível, estacionamento e pedágio – teve inflação de 3,6%", diz Silva acrescentando que a "postergação do aumento do preço da gasolina e do diesel em função do ano eleitoral também pode ter afetado" o resultado do ano passado.
Para o pesquisador, ainda é cedo para saber se essa "inflação pró-ricos" será uma tendência duradoura - caso em que poderia ter alguma repercussão sobre a questão da distribuição da renda.