Ex-executivos da Americanas cometeram fraudes para obter bônus, aponta investigação

Polícia Federal pediu prisão preventiva de ex-CEO da companhia, que está no exterior; bens de ex-diretores da empresa foram bloqueados

27 jun 2024 - 21h27

RIO - A investigação que levou à operação Disclosure, da Polícia Federal, que visou ex-diretores da Americanas, indicou que os investigados praticaram "manobras fraudulentas" a fim de alterar os resultados da empresa e, assim, receber bônus por metas atingidas, conforme apurou o Estadão/Broadcast. O processo corre em segredo de Justiça.

Além disso, alguns dos investigados detinham ações da Americanas e, ao forjar resultados positivos, se beneficiavam da alta das cotações, dizem pessoas a par das investigações, citando o Ministério Público Federal (MPF).

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Na manhã desta quinta-feira, 27, a Polícia Federal deflagrou a operação Disclosure, cumprindo 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores, localizadas no Rio de Janeiro. A operação incluiu dois mandados de prisão preventiva, que não foram cumpridos porque os investigados — Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americanas, e Ana Saicali, ex-presidente da B2W — estão no exterior. Ambos foram incluídos na lista de Difusão Vermelha da Interpol.

Por ordem da Justiça Federal, foi determinado o bloqueio de bens e valores dos ex-diretores, ultrapassando R$ 500 milhões. Os mandados foram expedidos pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro.

Fraude contábil nas Americanas foi revelada em janeiro de 2023
Fraude contábil nas Americanas foi revelada em janeiro de 2023
Foto: Pedro Kirilos / Estadão Conteúdo / Estadão

A fraude tinha origem na equipe de Relações com Investidores (RI), que preparava um arquivo denominado "Verdes e Vermelhos" ou "estimativa de analistas", no qual constava a expectativa de crescimento por parte dos analistas de mercado, narrou Flavia Carneiro, ex-executiva da companhia, em seu depoimento de colaboração premiada. Além de Carneiro, outro executivo, Marcelo Nunes, aderiu à colaboração premiada e ajudou nas investigações.

O arquivo fazia parte de um "kit de fechamento" trimestral, e quando as expectativas não eram atingidas, a diretoria alterava os resultados "para não frustrar as expectativas do mercado". A investigação mencionou um e-mail trocado pelos investigados, intitulado "Sell Side 3Q22 Preview Bullets", que trazia um dos arquivos denominado "Verdes e Vermelhos", com análises de sete instituições financeiras.

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O procedimento era recorrente, principalmente nos trimestres, conforme diálogo entre Flavia Carneiro e o ex-diretor financeiro Carlos Eduardo Padilha, no qual o executivo aponta a meta que deveria ser perseguida para a divulgação dos resultados. A investigação indicou que a cada trimestre era apresentada uma versão para o conselho de administração e para o mercado.

Segundo os depoimentos prestados pelos colaboradores, não é possível afirmar com certeza quando as supostas fraudes tiveram início. As fraudes contábeis ocorriam nas Lojas Americanas e na B2W, e continuaram após a fusão na Americanas.

A maioria das fraudes praticadas tinha dois objetivos, disse o MPF no processo. De um lado, um conjunto de manobras fraudulentas foi marcado pela inserção de receitas fictícias no balanço da empresa, bem como o uso de outros expedientes para maquiar os resultados.

De outro lado, outro conjunto de operações foi realizado para gerar caixa, para impedir que o primeiro grupo de manobras fraudulentas fosse descoberto, mas não foi incluído nos demonstrativos contábeis ou foi incluído com informações insuficientes, disfarçando a real dívida da empresa.

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Em nota, a Americanas afirmou que "reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes". "A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos."

A defesa de Gutierrez disse que o executivo "jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios." O Estadão não conseguiu contato com a defesa da ex-diretora das Lojas Americanas Anna Saicali.

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