Pode parecer estranho, mas astronautas têm muito mais em comum com funcionários de empresas de óleo e gás do que se imagina. E a experiência deles pode ajudar a companhias do setor a gerenciar melhor os riscos de exploração e produção não só no Brasil, mas também em outros países. Especialistas da agência espacial americana Nasa e da consultoria Deloitte anunciaram uma parceria para que a agência troque conhecimentos sobre como lida com riscos em missões fora da Terra, de modo que eles sejam usados em produção de óleo e gás em águas profundas.
A ideia é que uma equipe conjunta, composta de astronautas, ajude empresas do setor a identificar e analisar preventivamente os seus riscos de operações e recomende a melhor tecnologia a cada problema levantado.
Segundo Carlos Vivas, sócio da Deloitte, há semelhanças nos desafios enfrentados pelos astronautas e pelas empresas de óleo e gás. Ele lembra que os astronautas precisam estar sempre prontos com tecnologia e conhecimento para resolver problemas que ocorram no espaço, já que a comunicação deles com a Terra tem um delay (atraso) de cinco minutos.
“Os profissionais dessas áreas lidam com equipamentos complexos e com grande potencial de catástrofes. A indústria de óleo e gás tem procurado se aperfeiçoar cada vez mais e agora será possível aplicar novas técnicas para a gestão de riscos na exploração e produção de petróleo”, disse Vivas.
A experiência da Nasa pode ajudar as empresas de óleo e gás a terem acesso mais rápido a informações em caso de problemas, de modo que elas possam fazer correções no processo durante as crises. Além disso, outra possibilidade é o uso de uma ferramenta que busca informações sobre riscos em diversos documentos, bancos de dados e relatórios internos e externos, que pode permitir as empresas a emitir alertas prévios de novos possíveis problemas.
Segundo o ex-astronauta da Nasa William Bill Mc Arthur Jr., que participou de quatro missões no espaço, para evitar riscos é preciso treinamento de pessoal e também levar em conta que é mais vantajoso investir mais em medidas preventivas do que na reparação de danos.
“Se eu pagar um pouco mais, quanto menor será o risco? Se eu levar um pouco mais de tempo, pode diminuir muito o risco? A gestão do risco deve ser constante. Quanto custou fazer a recuperação do ônibus espacial Columbia? Foram bilhões. E se tivéssemos investido uma fração desse valor logo de cara, poderíamos ter gastado menos e poupado vidas”, disse o ex-astronauta.
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De acordo com Mc Arthur Jr, é impossível impedir totalmente que problemas aconteçam, mas o que se tem que buscar é que eles ocorram menos. O ex-astronauta disse que os desafios do setor de óleo e gás são maiores que os de uma missão espacial.
“Precisamos avaliar o risco sob o ponto de vista do tempo de exposição a um ambiente hostil. No setor de óleo e gás é maior, há mais locações, mais pessoas expostas ao risco. Se há um evento catastrófico, a probabilidade de ter impacto no ambiente é maior. No espaço, um evento problemático vai custar a vida da equipe, mas poucas pessoas vão para o espaço”, afirmou o ex-astronauta. Segundo a Deloitte, como o projeto acaba de ser lançado para o mercado, ainda não há empresas de óleo e gás usando a experiência da Nasa em gestão de riscos.