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Fabricantes de cimento estimam alta de 1% nas vendas este ano após alta de 4% em 2024

13 jan 2025 - 16h23

A indústria de cimento do Brasil previu nesta segunda-feira desaceleração no ritmo de crescimento este ano após um 2024 acima do esperado, em meio a uma forte base de comparação e questões como a alta dos juros, que pressiona o consumo das famílias e os financiamentos imobiliários.

O setor terminou o ano passado com vendas no Brasil de 64,65 milhões de toneladas, uma expansão de 4,2%, puxada em grande parte pelo desempenho da Região Nordeste, onde a comercialização de cimento saltou 7,5%, para 13,6 milhões de toneladas, com impulso do programa residencial Minha Casa, Minha Vida (MCMV), segundo dados divulgados nesta segunda pela associação que representa os fabricantes do material, Snic.

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Para 2025, a expectativa do setor é de crescimento de cerca de 1% nas vendas no país, a 65,5 milhões de toneladas, segundo o Snic.

"Recuperamos as perdas de 2022 e 2023", disse o presidente do Snic, Paulo Camillo Penna. "Mas temos que lembrar que além da base forte (ante 2024) há ainda um elevado endividamento das famílias e inadimplência, e taxa de juros indo a 15%", acrescentou o executivo sobre a previsão do Snic para este ano.

Segundo Penna, com juros a partir dos 12% ao ano há "efetiva preocupação do investidor rever seus investimentos" -- um sintoma da concorrência do setor de construção com ativos financeiros em torno dos recursos da população. No Brasil, a maior parte do consumo de cimento ocorre em pequenas obras contratadas por pessoas físicas, a chamada autoconstrução.

O recorde de vendas da indústria do cimento ocorreu em 2014, com cerca de 73 milhões de toneladas comercializadas. Naquele ano, a Selic terminou em 11,65%, segundo dados do Banco Central.

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Além dos juros, Penna citou ritmo lento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujas obras ainda não estão contribuindo de forma relevante para o consumo de cimento no país.

Porém, este ano deve haver uma demanda maior por cimento em obras de saneamento após a série de concessões realizadas desde a aprovação do marco do setor em meados de 2020, previu o presidente do Snic.

"O PAC não teve desempenho esperado no ano passado e não estamos vendo sinalização de melhoria este ano", disse Penna. "Temos visto chance de avançar (o consumo de cimento) em concreto rodoviário e urbano e saneamento", acrescentou, citando uma nova onda de concessões previstas para este ano em Estados como Pernambuco, Pará e Roraima.

MINHA CASA, MINHA VIDA

A expectativa do setor é que o MCMV siga impulsionando o consumo de cimento no país este ano, principalmente após 620 mil moradias construídas em 2024, afirmou Penna. O programa foi reestruturado em 2023 e o governo estima a contratação de 2 milhões de moradias até 2026. Segundo Penna, o setor já estima que esta meta pode chegar a 2,5 milhões de unidades até lá.

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Caso se confirme a previsão de entregar 500 mil unidades por ano do programa MCMV, isto consumirá cerca de 2,5 milhões de toneladas de cimento, segundo dados do Snic.

O crescimento das vendas de cimento no Nordeste em 2024 foi reflexo do avanço do programa habitacional, disse Penna. "Os maior investimentos do Minha Casa Minha Vida foram nessa região."

O desempenho do Nordeste só perdeu para a expansão de 10,2% das vendas no Norte do país, onde o volume de vendas de cimento somou no ano passado 3,1 milhões de toneladas, impulsionado em parte por retomada de operações de fabricantes locais.

Enquanto isso, o Sudeste, maior mercado do país, teve crescimento das vendas de cimento de 2,8%, a 29,7 milhões de toneladas. O Sul registrou avanço de 3,5%, enquanto no Centro-Oeste as vendas subiram 2,2%, segundo os dados do Snic.

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Segundo Penna, apesar da série de baixas recentes de grandes bancos norte-americanos, como Goldman Sachs e JPMorgan, de aliança global para fomento de investimentos que reduzam emissões de gases causadores de efeito estufa, a indústria de cimento do país continua comprometida em melhorar o uso de combustíveis menos poluidores.

O setor de cimento brasileiro projeta investimentos de cerca de 13,5 bilhões de reais até o final de 2027, a maior parte em modernização de fábricas para serem capazes de lidar com combustíveis alternativos ao coque de petróleo dolarizado.

"Nossos contratos de financiamento estão todos atrelados a desempenho ambiental", disse Penna. "A cartilha do (presidente eleito dos Estados Unidos Donald) Trump está prevalecendo... Mas acredito que o Brasil é um país mais sensível a este tema", afirmou.

Penna citou que "muito em breve" o setor de cimento do Brasil deverá um conjunto de metas mais ambicioso que o atual objetivo de substituição de 55% de coque de petróleo por combustíveis renováveis e alternativos como biomassa. "Resíduo urbano vai ser a principal fonte de combustível alternativo", afirmou.

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