É cruel escolher o índice que evidencia com mais precisão a desigualdade social no Brasil. Mas se é necessário, provavelmente o acesso ao esgoto seja o mais perfeito e dolorido retrato da injustiça no nosso país.
No Brasil, a população sem acesso à rede de esgoto é composta principalmente por pessoas pardas, sem ensino fundamental e com renda de até um salário mínimo. Analisando por faixa de renda os números gritam alto.
Entre as pessoas mais pobres, as que ganham até um quarto de salário mínimo, são 56% as que não possuem acesso ao esgoto. Acima dos cinco salários mínimos a taxa é de 10%.
Quando se fala do acesso à rede de água na parcela mais pobre, 29,1% não estão conectados. Imagine você como fazem estes milhões de famílias para viver em casas sem água nem esgoto, as dificuldades, o perigo para a saúde.
Há uma grande diferença regional das pessoas sem acesso a esgoto. Como era de se esperar, 43% delas estão no nordeste, 9% no centro-oeste, 19% vivem na região norte, 15% no sudeste e 14% na região sul.
Se você transformar este retrato em uma fotografia é preciso que ela seja colorida. Da população que está fora da rede de esgoto, 56,7% são pardos, 10% negros e 32,1% brancos.
Mas será que a gente deve tratar esta diferença como racismo, inclusive juridicamente? Defendo que sim, neste vídeo.
(*) André Forastieri é jornalista, sócio da consultoria Compasso e fundador de Homework. Conheça melhor seu trabalho em andreforastieri.com.br.