A falta de credibilidade fiscal do governo Lula é a causa da deterioração de variáveis econômicas como a taxa básica Selic, os juros futuros e o câmbio, afirmou nesta sexta-feira o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.
Ele estima que a falta de um compromisso claro do governo com o corte de gastos fará a dívida bruta do país alcançar 84% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2026, último ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os dados mais recentes do Banco Central indicam que, em novembro do ano passado, a dívida bruta estava em 77,7% do PIB. A dívida bruta é um dos principais indicadores econômicos observados por agências internacionais de rating para avaliar o risco soberano dos países.
Com o PIB avançando nos últimos quatro anos e a taxa de desemprego batendo recordes de baixa, a dívida bruta brasileira deveria estar em um patamar menor, defendeu Mansueto, durante evento na Associação Comercial do Rio de Janeiro.
O economista-chefe do BTG Pactual avaliou ainda que as incertezas fiscais estão por trás da alta do dólar, mesmo com o Brasil tendo encerrado 2024 com o segundo melhor saldo comercial da história e com o Banco Central gastando bilhões de dólares para tentar conter o avanço da moeda norte-americana.
Nas últimas semanas de 2024 o dólar acelerou no Brasil, chegando a se aproximar dos 6,30 reais nos momentos de maior pressão, em meio à desconfiança do mercado na política fiscal do governo Lula e aos receios em torno da futura presidência de Donald Trump nos EUA. Neste início de 2025, porém, a moeda norte-americana perdeu força globalmente, retornando para abaixo dos 6,00 reais nesta semana.
Para Mansueto, o recuo se deve ao cenário externo, com as novas interpretações de falas de Trump sobre a política comercial norte-americana.
No evento, o ex-secretário do Tesouro também chamou a atenção para o avanço dos juros de curto e de longo prazo no Brasil e para as elevações da Selic, hoje em 12,25% ao ano. Segundo ele, as taxas estão em trajetória de alta porque o governo está tendo que pagar um prêmio de risco maior diante da credibilidade fiscal arranhada.
"Estamos em um período de perda de credibilidade na vontade do governo em controlar as contas. O (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad e a (ministra do Planejamento e Orçamento, Simone) Tebet fazem esforço para mostrar a necessidade fiscal, mas o mercado vê que é um esforço individualizado, e não de todo o governo", pontuou.
"O maior crítico do governo é seu partido. É uma luta inglória contra a base política do governo", acrescentou, em referência ao PT, sigla de Lula.
Mansueto afirmou ainda que a sociedade "não aguenta mais aumento de carga tributária", o que torna necessário controlar as despesas ou ao menos indicar quando elas começarão a cair.
O economista pontuou que juros e dólar mais elevados afetam a atividade econômica, os investimentos e o mercado de trabalho. Em função disso, ele espera que o país cresça até 2% este ano -- menos que os cerca de 3,5% de 2024 -- e que os investimentos fiquem abaixo dos 17% do PIB.
"2025 e 2026 serão anos de juros altos. Antes se pensava no fim do governo Lula com a Selic a 8%, e vamos fechar a 12%", lamentou. "Com juros altos, o PIB será menor, e não na casa dos 3%."