Produtos básicos, como fralda e leite, sumiram e pessoas fazem filas para tentar comprá-los
Eugenia Martinez disse ter acordado às 3h para comprar dois pacotes de fraldas para a filha.
"Em nenhum lugar em Caracas você consegue encontrar fraldas", diz a dona de casa. "Então quando alguém me avisa sobre onde encontrá-las, tenho que ir".
A falta de produtos básicos, como a fralda para a filha de Eugenia, tem se agravado na Venezuela com a forte queda no preço do petróleo nos últimos meses.
O país é altamente dependente dos recursos da exportação do produto - segundo estimativas, 96% das receitas de exportação são provenientes do produto. Petróleo mais barato significa menos dinheiro nos cofres do país para garantir acesso a moeda estrangeira e importações de produtos.
Assim, filas para itens simples têm se espalhado pelo país.
Mesmo tão cedo, Eugenia conta ter enfrentado um metrô lotado, antes de se juntar a mais uma fila. Achadas as fraldas, o desafio agora é encontrar leite.
"Todos os dias eu tenho que ficar na fila para encontrar o que eu preciso. Agora, eu não consigo encontrar uma lata de leite. Não acho em nenhum lugar. Estou preocupada porque só tenho uma lata em casa".
"Não consigo imaginar como serão as coisas em janeiro. Desse jeito, vamos passar fome".
Em junho, o preço do barril do petróleo venezuelano - mais pesado para os padrões internacionais - estava ao redor de US$ 100. Na semana passada, o preço chegou a US$ 57,53.
'Economia de guerra'
A queda do preço do petróleo significa menos dólares nos cofres do governo da Venezuela e para o pagamento de importações.
Para o empresário Alex Hernández, a queda do preço do petróleo tornou ainda mais difícil o acesso a moeda estrangeira necessária para comprar os produtos importados que ele vende.
"Não temos guerra mas é uma economia de guerra. Porque mesmo quando você tem dinheiro você não consegue encontrar o que quer. Empresários estão sob risco", diz ele.
Homem mostra senha escrita en seu braço para marcar seu lugar numa fila para comprar alimentos em um mercado do governo em Caracas
Em 2003, o governo venezuelano definiu uma taxa fixa para o câmbio. A medida foi adotada para que o governo mantivesse o controle sobre os preços e
garantir que alguns itens básicos, como pão e arroz, ficassem mais acessíveis aos pobres.
Diante do controle cambial, pessoas e empresas podem receber dólares na taxa oficial somente através de uma agência do governo - e somente para fins de importação de bens ou pagamento de viagens ao exterior.
Como Hernández disse, o preço de produtos na Venezuela tem subido. A taxa de inflação oficial do governo está em 63,4% e o país está beira da recessão.
Foi a primeira vez desde maio que o Banco Central local divulgou o índice de inflação. Críticos acusam o governo de omitir dados por razões políticas.
O BC também não divulgou o índice de escassez, que revela os produtos que estão em falta. Mas é evidente que a dificuldade de se obter produtos básicos tem gerado descontentamento entre muitos.
"Todos os venezuelanos têm sentido no bolso a queda do preço do petróleo. Evidentemente está custando muito para a gente. Porque quando o preço cai há menos moeda estrangeira para os importadores", disse Hernández.
"Aqui na Venezuela 90% dos produtos são importados. Quase tudo o que se consome na Venezuela é importado. E lamentavelmente isso colabora para que a alta dos produtos seja maior".
O mecânico Enrique Moreno também se diz afetado pela escassez de produtos - no caso dele, de peças de reposição importadas.
"Nos dizem que este país tem as maiores reservas de petróleo do mundo. Mas para mim isto é mentira, porque se fosse verdade, não deveríamos estar onde estamos", disse.
"Estamos num período de insatisfação. Você sente nas ruas, falando com as pessoas".