O Federal Reserve pode rejeitar alguns elementos das medidas internacionais destinadas a avaliar a saúde financeira dos bancos em favor de suas próprias regras, frustrando instituições que gastaram bilhões de dólares para atender aos padrões globais.
Autoridades do banco central dos Estados Unidos estão preocupadas que partes da principal ferramenta que os reguladores desenvolveram para medir o risco dos bancos, conhecida como Basileia III, sejam falhas e passíveis de serem burladas pelas empresas.
Sob Basileia, os bancos podem determinar o tamanho da dívida que podem assumir usando modelos próprios e sistemas de computador para calcular o risco de seus ativos, entre outros métodos. Quanto maior o risco, menos os bancos podem emprestar e tomar emprestado. Isso pode dar aos bancos oportunidade de flexibilizar seus modelos de risco para aumentar o lucro.
Em um discurso em maio, o diretor do Fed Daniel Tarullo criticou Basileia III por permitir que os bancos usem seus próprios modelos. Apesar de ter expressado sua visão própria, uma outra fonte familiarizada com o assunto disse à Reuters que a opinião de Tarullo é partilhada por outros diretores do banco central norte-americano.
Em vez de usar modelos próprios dos bancos, Tarullo defende um critério próprio do Fed, que testa como os bancos reagiriam durante turbulências do mercado ou crises econômicas - o chamado teste de estresse.
Os comentários de Tarullo vieram menos de três meses após reguladores dos EUA darem luz verde para oito grandes bancos do país usarem seus próprios modelos de risco.
A preferência do Fed por um modelo próprio está deixando os bancos enlouquecidos, já que avaliam que os testes do Fed não são transparentes.
Os maiores bancos do mundo provavelmente já gastaram bilhões de dólares com modelos computacionais, contratação de pessoal e venda de ativos para cumprir Basileia III, disseram analistas.
Sem mais detalhes sobre as regras do Fed, os bancos devem manter mais capital, possivelmente restringindo a concessão de empréstimos e o crescimento global, disseram executivos. O Wells Fargo, quarto maior banco dos EUA, disse recentemente que está separando mais capital por causa do teste de estresse do Fed.
Reguladores podem ter razão para se alarmar com a forma utilizada pelos bancos para medir o risco de ativos. No ano passado, o Comitê de Basileia, que está refinando a atual geração de regras de Basileia, disse ter encontrado grande variação na forma como os bancos avaliam o risco de carteiras hipotéticas de empréstimos e ativos negociados.
Os bancos raramente confessam mudar seus modelos de risco para reduzir as exigências de capital, mas a prática foi evidenciada no ano passado, quando uma subcomissão do Senado dos EUA divulgou e-mails em que executivos da JPMorgan Chase & Co discutiam como estavam mudando seu modelos para reduzir o grau de risco aparente de seus ativos.
Funcionários do Fed entrevistados pela Reuters disseram que o tom de Tarullo surpreendeu, dada a energia gasta por reguladores e bancos para adotar a terceira geração de regras de Basileia, que deve ser totalmente implementada no início de 2019.
Três altos executivos de Wall Street se queixaram à Reuters sobre as mudanças do Fed em relação aos seus próprios testes, mas nenhum quis ser citado por medo de insultar o regulador.