A agência de classificação de risco Fitch Ratings reafirmou nesta quarta-feira a nota de crédito soberano "BB-" para o Brasil, com perspectiva negativa, e chamou atenção para os riscos fiscais do país em um ambiente de incerteza política doméstica e ressurgimento global das infecções pelo coronavírus.
"A perspectiva negativa reflete a severa deterioração do déficit fiscal do Brasil e do fardo da dívida pública durante 2020 e a incerteza persistente quanto às perspectivas de consolidação fiscal, incluindo a sustentabilidade do teto de gastos de 2016 (a principal âncora da política fiscal), dadas as contínuas pressões sobre os gastos", afirmou a Fitch em relatório.
A agência citou ainda em seu comunicado riscos referentes ao encurtamento da dívida pública, movimento que tem ocorrido conforme o Tesouro Nacional tem maiores dificuldades para captar recursos tendo como pano de fundo maior receio do mercado sobre as contas públicas e um juro real de curto prazo negativo.
"Embora a equipe econômica esteja comprometida em retornar à sua agenda de reformas em 2021, o ambiente político permanece fluido, reduzindo a visibilidade e previsibilidade do processo", disse a Fitch no texto.
"A Fitch espera que a economia se recupere a partir de 2021; no entanto, a incerteza em torno dos desenvolvimentos políticos e de políticas públicas, combinada com um ressurgimento de infecções globais por coronavírus, continua a obscurecer o panorama."
A agência prevê que a economia brasileira vai contrair 5% em 2020, quando a dívida pública deverá chegar a quase 95% do Produto Interno Bruto (PIB). O déficit nominal do governo geral vai escalar para 16,7% do PIB em 2020, ante cerca de 6,0% em 2019 e mais do que o dobro do rombo de 7,8% correspondente à mediana de países de rating "BB".
Em setembro, porém, a Fitch previa uma queda do PIB ainda maior, de 5,8%.
Para 2021, a Fitch projeta que a economia brasileira vai se beneficiar de uma recuperação econômica global, de maior crescimento na China (seu principal parceiro comercial) e de uma taxa de câmbio competitiva. Mas a agência ponderou que vários riscos negativos podem amortecer a recuperação, incluindo a eliminação progressiva das medidas emergenciais de apoio e a persistência de uma elevada taxa de desemprego.
"O ressurgimento do coronavírus, o endurecimento das medidas de distanciamento social e/ou manobras de política que minam a confiança do mercado na trajetória fiscal futura são riscos negativos adicionais", afirmou a Fitch.
A nota soberana atribuída ao Brasil pela Fitch mantém o país no grupo de maior risco de crédito, o chamado status "junk". Moody's ("Ba2", perspectiva estável) e S&P ("BB-", perspectiva estável) também classificam o rating do Brasil abaixo do grau de investimento.