A open innovation [ou inovação aberta] se comprovou como alternativa viável às empresas que precisam inovar mas que não têm equipe, foco ou capacidade de fazê-lo sem perder as metas de curto e médio prazo. E, a partir disso, começou a trazer conceitos de outras indústrias para serem aplicados em diferentes lugares e em qualquer fase do processo de inovação: desde a busca por novas ideias para ajudar no desenvolvimento do produto ou serviço em si até para criar formas diferentes de executar a concepção de um novo projeto em si. Mas será que a open innovation serve para todo mundo?
Felipe Ost Scherer, cofundador da Innoscience, é categórico: “Sim, o open innovation serve para todos, mas não serve para tudo. Pois nem todos os problemas vão ser resolvidos dessa forma”, complementa, lembrando que essa é apenas mais uma ferramenta no arsenal da inovação: “O open innovation funciona bem quando é usado para resolver desafios de forma rápida ou quando é pensado para o aprendizado da empresa, sobretudo porque é um projeto de exploração, que serve para a validação de algumas hipóteses e também para desconstrução de outras.”
Abrir a inovação, portanto, tem se mostrado uma maneira bastante inteligente de catalisar os resultados de uma empresa, porque permite expandir a experimentação diminuindo bem os riscos envolvidos. Só que mesmo assim, algo pode dar errado. E a cultura organizacional normalmente é o principal assassino da inovação dentro das companhias.
“Entre os projetos de open innovation que não dão certo, metade deles é porque a solução não é boa e a outra metade é porque as pessoas envolvidas ainda não estão prontas para usar o modelo desenvolvido pela startup”, diz Felipe Ost Scherer.
Os problemas começam a aparecer quando a empresa não tem uma cultura de adoção das soluções propostas. "De nada adiantará fazer a inovação aberta sem escalar tal solução em algum momento. As empresas precisam entender que explorar uma ideia sem adotá-la de fato só vai ajudar a descobrir uma ameaça que pode impactar o seu próprio negócio muito em breve”, deixa claro Glaucia Guarcello, sócia-líder de Inovação e Ventures da Deloitte Brasil.
Outro agravante é que a cultura brasileira é do imediatismo - exatamente o oposto do que preza com o uso de corporate venture capital (CVC), o fundo de onde costumam vir os investimentos para a inovação aberta: Open innovation não serve para fazer compras de startups que já têm soluções prontas, é para trabalhar em conjunto e aceitar que ali está uma outra empresa que também precisa crescer e que tem seu próprio business plan.”
Perguntamos aos especialistas: Como mudar a mentalidade para garantir a inovação em uma organização que já tem valores e cultura arraigados?
“Eu sugiro que as empresas que sabem que possuem uma cultura muito estabelecida e que não entendem bem como poderiam se beneficiar de inovação aberta, busquem ajuda especializada no desenho da estratégia e na execução pelo menos por alguns ciclos ou até conseguirem perceber o valor gerado e capturado, para que a disciplina de inovação aberta seja mantida no negócio”, diz Alexandre Nascimento, empreendedor e pesquisador em Inteligência Artificial pela Singularity University.
“Sabemos que a cultura é orgânica, feita de pessoas, e eu realmente não acredito em mudanças feitas do dia para noite. Por isso, qualquer velocidade nessa transformação pode dar errado. O melhor a fazer é planejar de forma coerente e consistente, para que a mudança cultural seja sustentável. Para isso, vale investir em uma gestão da mudança e contratar talentos com experiências diferentes daquelas vistas na empresa, lembrando sempre de incluir essas novas pessoas na equipe para que elas não precisem se moldar ao que já está em voga”, diz Glaucia Guarcello, sócia-líder de Inovação e Ventures da Deloitte Brasil.
Tá com fome?
É a tal premissa do “não existe almoço grátis”. Ou seja, sem uma estratégia clara, a empresa não vai conseguir gerar valor com a iniciativa ou, ainda pior, corre o risco de criar um valor sem conseguir capturá-lo - e ele vai parar na mão de seus concorrentes. Esse tipo de situação pode fazer com que a empresa passe a não acreditar mais na abordagem e, ao não obter as inovações que buscava, ou ao não conseguir capturar valor, ela coloca em risco a sua própria existência”, exemplifica Alexandre Nascimento.
Para casos assim, Glaucia lembra que sempre é preciso separar "desleixo" de "erro": “O primeiro precisa ser sempre evitado, mas o segundo é parte do processo de inovação.”
Todos aqueles que já investiram tempo e dinheiro para tentar algo que deu errado sabem o quanto as lições aprendidas podem ser reaproveitadas, mesmo nos casos negativos. “Ao se abstrair o resultado e procurar obter as lições e os princípios que guiaram uma solução, dá para ter uma valiosa fonte de recursos para acelerar um projeto com soluções similares testadas com algumas modificações”, completa Nascimento.
“A atual taxa de sucesso de projetos open innovation está na faixa dos 50-60%, mas isso não significa que seja um dado ruim: metade dos projetos dão certo e a outra metade deixa aprendizados importantes”, diz Felipe Ost Scherer.
(*) Renata Armas é redatora do Unbox Project, programa de desenvolvimento de carreira que conecta líderes de negócios, entidades auto-organizadas e empresas com metas de ESG para destravar a inovação e a economia sustentável. Como parte de sua missão de "desencaixotar o pensamento crítico que deve(ria) anteceder a inovação", tem produção de conteúdo recorrente no site unbox.dev.br e na seção Homework, do portal Terra.