O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira, 30, que a autoridade monetária está "confortável" com o ritmo de cortes de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, e chegou a um ponto do ciclo de afrouxamento que permite observar a evolução do cenário.
Ele relatou, porém, que tem sentido no mercado, em conversas recentes, um sentimento de que haveria espaço para acelerar os cortes.
"O que a gente tem tentado fazer? Não se emocionar muito com os dados, especialmente os de alta frequência, e tentar se beneficiar do fato que estamos num ponto do ciclo que permite ver como isso se desenrola", disse durante um evento organizado pelo banco JPMorgan, em São Paulo.
Ele afirmou que o BC decidiu entrar em um "esporte de altíssimo risco para emergentes" ao dar um forward guidance (ferramenta para delinear o curso futuro da política monetária) na condução da política monetária, quando mencionou a preferência por manter o ritmo de cortes de 0,50 ponto porcentual "nas próximas reuniões", no plural.
Galípolo lembrou, no entanto, que esse forward guidance acabou levando a discussão no mercado mais para o orçamento total dos cortes — ou seja, a qual nível a Selic vai cair no fim do ciclo — do que para o ritmo de baixa. Mas afirmou perceber um sentimento no mercado para acelerar os cortes.
O diretor acrescentou que ainda não está claro se diversos bancos centrais do mundo já chegaram ao fim dos seus ciclos de aperto. E repetiu que o BC observa os dados para balizar as decisões. Ele disse que, se os dados mudarem, as suas próprias opiniões sobre a condução da política monetária também podem mudar.
Esforço pela reancoragem total
Galípolo disse que o BC tem se esforçado para ancorar completamente as expectativas de inflação do mercado. As medianas do Focus para o IPCA de 2025 em diante estão em 3,5%, 0,5 ponto porcentual acima do centro da meta, de 3%.
"Esse é um ponto de bastante esforço e endereçamento de esforços do Banco Central, para que exista essa convergência, para que a gente tenha uma reancoragem total, e não parcial, das expectativas", afirmou.
Ele relatou ter ouvido de agentes do mercado que há limites para o quanto o BC consegue contribuir na reancoragem das expectativas, já que questões como a incerteza fiscal contribuem para o prêmio nas projeções. O maior problema, segundo ele, não é o déficit que o governo entregará, mas sim o quanto o mercado considera que o Executivo está comprometido com a consolidação fiscal.
Galípolo também relatou que há dúvidas sobre a viabilidade de uma meta de 3% para a inflação brasileira, mas reiterou que o BC está comprometido com a meta. E, em termos de composição do BC, disse que, com o tempo, o mercado vai se acostumar à dinâmica de ter novos diretores indicados todos os anos, como foi estabelecido na lei de autonomia da autarquia.
"A estabilidade da política monetária do Brasil está apoiada na capacidade dos técnicos do BC, que subsidiam a gente com uma série de dados fantásticos, do ponto de vista de quantidade e qualidade, e depois de 28 reuniões, até chegar no Copom, com todo mundo sentado na mesma mesa e vendo os mesmos dados, o nível de divergência vai estreitando muito", afirmou.
Para o diretor, a inflação corrente é um dos principais canais com transmissão para as expectativas e, se continuar melhorando, deverá ter impacto nas projeções do mercado. Galípolo disse também ter ouvido de outros BCs que o brasileiro é o mais preocupado com a questão das expectativas.