O governo cancelou o anúncio do programa Auxílio Brasil marcado para esta terça-feira (19), informou o Ministério da Cidadania, em meio a uma forte reação negativa do mercado à decisão de colocar parte do pagamento do benefício que vai substituir o Bolsa Família fora do teto de gastos.
A expectativa era do anúncio de um valor de R$ 400 para os beneficiários, num programa que pode ajudar Bolsonaro a recuperar parte de sua popularidade um ano antes da eleição presidencial de 2022.
Ao sair do Congresso no final da tarde, os ministros Ciro Nogueira, da Casa Civil, e João Roma, da Cidadania, disseram que não foi possível finalizar o texto.
"Estamos fechando o texto ainda", disse Nogueira. Roma foi na mesma linha: "São muitas informações. Pensamos em anunciar, mas não validou ainda."
Em comunicação enviada na segunda-feira e vista pela Reuters, Bolsonaro convidou ministros para a "Cerimônia de Lançamento do Auxílio Brasil" às 17h, no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial.
Convidados estavam chegando ao Palácio do Planalto e acabaram sendo informados pela equipe de apoio que a cerimônia não iria mais ocorrer.
Uma fonte com conhecimento do programa explicou que o valor pago às famílias será composto em parte pelo orçamento do Bolsa Família e em parte por um auxílio temporário que, por não ser estruturado como despesa continuada, não precisará de definição de fonte de receita.
Segundo essa fonte, o Bolsa Família será rebatizado de Auxílio Brasil, como planejava o governo, e manterá seu orçamento de R$ 34,7 bilhões previsto para o ano que vem. Mas, para aumentar o valor pago aos beneficiários, um auxílio temporário será criado, ao custo de cerca de R$ 50 bilhões. Parte do auxílio será pago dentro do teto de gastos e parte fora.
Outra fonte, a par das negociações, disse à Reuters que o valor de R$ 400 para o Auxílio Brasil foi uma imposição do presidente Jair Bolsonaro.
A informação de que o governo planeja furar o teto de gastos aguçou o mau humor do mercado financeiro.
O relator da medida provisória que trata do Auxílio Brasil, Marcelo Aro (PP-MG), disse ser contrário à solução que está sendo divulgada.
"Eu vinha cobrando do Ministério (da Economia) um posicionamento, números, eles não me passaram e aí tive essa notícia de dois auxílios temporários, que na minha opinião não é o caminho, nós precisamos de uma política estruturante, nós precisamos de uma política de Estado e não acredito que benefícios temporários sejam solução para essa camada mais vulnerável, mais necessitada do país", disse Aro a jornalistas.