O acordo de delação premiada que o executivo Julio Camargo, da empreiteira Toyo-Setal, assinou após ver seu nome envolvido na Operação Lava Jato da Polícia Federal (PF), deve gerar um impasse no andamento das obras que a empresa está executando, com contratos no valor de R$ 4 bilhões com a companhia estatal.
Uma eventual saída da Toyo-Setal dos projetos poderia atrasar ainda mais empreendimentos que já enfrentam dificuldades, o que geraria também novos prejuízos à Petrobras. Já a outra opção, que é a manutenção dos contratos se houver a confissão de que a empresa contratada agiu de maneira ilegal para obtê-los, é eticamente questionável. O resultado é uma indefinição em diversos projetos da estatal, que também podem afetar uma série de outras empresas citadas nas investigações.
Dentre os projetos em que a Toyo-Setal está envolvida, alguns são de grande relevância para o andamento das atividades da Petrobras, como a construção e a integração dos módulos para a plataforma P-74, que está sendo feita pelo Estaleiro EBR – parte da sociedade entre a japonesa Toyo e a brasileira Setal –, e será utilizada na Cessão Onerosa do pré-sal; a unidade de hidrogênio do Comperj; e a unidade de amônia para a planta de fertilizantes da Petrobrás em Uberaba (MG), a UFNV.
São projetos que incluem tanto a área de abastecimento, que foi dirigida por Paulo Roberto Costa, quanto as diretorias de Engenharia, Exploração e Produção e Gás e Energia. Além disso, antes da formação da joint venture entre a Toyo e a Setal, em 2012, as duas empresas já haviam trabalhado em parceria em outros projetos para a Petrobras, como na modernização da Refinaria Henrique Lage (REVAP) e na ampliação do Terminal de Cabiúnas (TECAB).
A decisão de Julio Camargo foi tomada depois de saber que a PF havia apreendido documentos de Paulo Roberto Costa em que constava seu nome como um dos que contribuiriam para o esquema. No documento em questão, ao lado do nome do executivo, havia o seguinte comentário: “começa a ajudar a partir de março”. Além disso, em depoimento à Justiça Federal do Paraná, Costa também citou Camargo como um dos envolvidos no processo de “cartelização” denunciado pelo ex-diretor da petroleira. Segundo investigadores, além de aceitar contar o que sabe sobre o caso, o executivo também concordou em pagar uma multa de R$ 40 milhões. A Petrobras não comenta o que pretende fazer.
No dia 25 de maio deste ano, durante as atividades da CPMI da Petrobrás, o nome de Julio Camargo chegou a ser um dos indicados para convocação, mas o requerimento nem chegou a ser apreciado pelos parlamentares.