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Grécia: por que o mercado não entrou em pânico com a eleição

Investidores parecem acreditar que Bruxelas e Berlim aceitarão negociar dívida grega

26 jan 2015 - 22h14
(atualizado em 27/1/2015 às 08h26)
<p>Após a eleição, Alexis Tsipras já deu sinais de que tentará o cancelamento de parte da dívida do país</p>
Após a eleição, Alexis Tsipras já deu sinais de que tentará o cancelamento de parte da dívida do país
Foto: Yannis Behrakis / Reuters

A população grega não parece estar assim tão agradecida pelos empréstimos de 240 bilhões de euros que receberam da zona do euro e do FMI – e a seguir darei uma possível explicação do porquê.

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A crise econômica do país foi causada em grande parte porque seu governo fez dívidas em excesso.

Então quando a etapa mais grave da crise começou, no final de 2009, a dívida pública era 127% do PIB do país – e subiu, no ano seguinte, para 146% do PIB.

Como condição do plano de resgate, duros cortes e medidas de austeridade foram impostos à Grécia. E isso teve um impacto grande na atividade econômica.

O país já estava em recessão após a crise financeira de 2008, mas desde 2010 – principalmente graças às medidas impostas por Bruxelas – o PIB diminuiu mais 19%.

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O PIB per capita, uma medida melhor das dificuldades que enfrenta a população grega, caiu 22% desde o início dos problemas em 2008.

As medidas de austeridade na Grécia certamente foram difíceis. Mas elas ajudaram a diminuir as dívidas do país? Pelo contrário, a dívida grega subiu para 176% do seu PIB até o fim de setembro de 2014.

Agora, ela caiu um pouco em valores absolutos. A dívida pública grega era de 265 bilhões de euros em 2008, de 330 bilhões de euros em 2010 e de 316 bilhões em setembro do ano passado.

Mas é a dívida em relação ao PIB ou à renda média nacional que determina o poder de compra dos cidadãos. E nesta medida importante, a dívida grega é maior hoje do que era quando o país foi resgatado com o dinheiro do FMI e do Banco Central Europeu.

Para deixar o óbvio ainda mais claro, foi o colapso na economia que causou os danos. Apesar de a Grécia ter voltado a crescer no ano passado, com uma taxa de crescimento atual de 1,6% (que pode não se sustentar), seria preciso mais de uma geração para reduzir a dívida do país a um valor administrável.

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Não é surpreendente, portanto, que um partido fazendo campanha pelo fim das medidas de austeridade e pelo cancelamento da dívida – o Syriza – tenha conseguido uma vitória esmagadora nas eleições de domingo.

O fato de que o partido precisa ainda de duas cadeiras para ter maioria no parlamento de Atenas não modifica a mensagem clara dos gregos para Bruxelas.

Ou talvez seja mais correto falar da mensagem enviada a Berlim – já que a Alemanha é o país da zona do euro mais ligado à máxima econômica que diz que não há conquistas sem a dolorosa austeridade.

Quanto aos investidores, há duas razões pelas quais a vitória do Syriza é significativa. Primeiro, como já mencionado, o líder do partido, Alexis Tsipras tem o claro compromisso de negociar o relaxamento das medidas de austeridade impostas por Bruxelas e pelo FMI e um cancelamento de pelo menos parte das enormes dívidas públicas do país.

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No momento, ele e seus colegas enfatizam o fato de que querem negociar e estão dando sinais disso. Mas os alemães dizem que o acordo feito com a Grécia na época do resgate continua de pé.

Então encontrar um meio-termo pode ser impossível – e a Grécia seja duramente arrancada ou decida deixar a zona do euro.

A segunda razão pela qual a vitória de partido de esquerda é significativa é que partidos novos antiausteridade estão crescendo em toda a Europa e têm tido sucesso especialmente na Espanha e na França.

Se o Syriza vencer as negociações com o resto da zona do euro, estes outros partidos podem ganhar mais credibilidade junto aos eleitores. A vitória da protecionista e nacionalista Marine Le Pen nas eleições presidenciais pode ser um teste interessante para o "autocontrole emocional" do mercado.

E se o Syriza for derrotado nas negociações com Bruxelas e Berlim, e a ruptura final coma zona do euro acontecesse, os investidores podem retirar seu dinheiro de qualquer país da zona do euro onde os nacionalistas estejam em ascensão.

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Então por que os investidores não estão em pânico? Por que o euro e as bolsas de valores só quicaram um pouco na manhã de segunda-feira? Uma explicação pouco plausível é a de que os investidores acreditem que a zona do euro será mais forte sem a Grécia, contanto que nenhum outro país grande siga seus passos.

Mas o mais provável é que eles acreditem que Berlim acabará aprovando um cancelamento das dívidas excessivas do país.

Mas a questão importante é esta: fora da Alemanha é quase impossível encontrar um economista ou chefe de um banco central que acredite que a reestruturação anterior da dívida grega realmente funcionaria.

Talvez, depois de os gregos terem feito um sacrifício enorme – e, alguns diriam, inútil –, a Alemanha aprove afinal um plano de resgate que dê ao país alguma chance de lutar para sair do poço de dívidas em que se encontra.

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