O economista mais cotado para ser o próximo ministro das Finanças da Grécia disse nesta segunda-feira que a saída do país da zona do euro, temida por investidores e outros países do bloco, "não está em jogo".
Yanis Varoufakis disse ao programa Today, da rádio BBC 4, que existe "espaço para ganhos e benefícios mútuos" nas negociações entre a Grécia e seus credores internacional - principalmente organismos internacionais como a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional.
"Não iremos a Bruxelas ou Berlim com a postura de confronto. Há muito espaço para ganhos e benefícios mútuos. Não devemos medir esforços para encontrar este espaço e garantir que qualquer acordo que negociarmos com nossos parceiros seja para o benefício de todos na Europa", disse Varoufakis.
"Levaremos à zona do euro um plano para minimizar o custo do colapso da Grécia. Colocaremos três ou quatro coisas na mesa: reformas genuínas e a criação de um plano racional para resstruturação da dívida. Queremos atrelar nossos pagamentos ao nosso crescimento", disse Varoufakis.
O Syriza conquistou a vitória na Grécia com a promessa de renegociar a dívida do país, tornando-se o primeiro partido antiausteridade a chegar ao poder na zona do euro e alimentando dúvidas sobre a permanência grega no bloco.
O líder do partido, Alexis Tsipras, prometeu encerrar o que chamou de "humilhação e dor" causadas pelas sucessivas medidas de cortes de gastos públicos e aumentos de impostos impostas pelo arranjo com os credores.
Segundo ele, os custos sociais e humanos da austeridade passaram do limite aceitável.
Insatisfação
O discurso gerou incerteza sobre como ficará a relação entre a Grécia e o resto da UE.
O país recebeu 240 bilhões de euros (quase R$ 700) da União Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional. Após a vitória, Tsipras disse que a troika de credores internacionais é "coisa do passado para os gregos".
Os mercados reagiram com cautela à vitória do Syriza. Ao longo da manhã, nos mercados financeiros, o euro se recuperou após cair ao menor valor frente o dólar em 11 anos.
Nos últimos anos, a economia grega encolheu 25%, o desemprego chegou a 26% - sendo de 50% para os jovens - e milhares de gregos caíram para abaixo da linha da pobreza. O descontentamento com esse cenário foi o que impulsionou o apoio ao Syriza.
Entre as propostas de Tsipras, estão uma renegociação da dívida externa da Grécia, que atualmente corresponde a 175% do seu Produto Interno Bruto (PIB), e a reversão de medidas de austeridade adotadas pelo país como parte dos acordos com UE, BCE e FMI.
Entre as promessas do Syriza, estão aumentar o salário mínimo, restaurar a eletricidade onde ela foi cortada e oferecer cobertura de saúde para os desamparados.
Yaroufakis rebateu os criticos que duvidam que o partido conseguirá cumprir as promessas.
"Temos uma crise humanitária. As pessoas estão dormindo nas ruas. Pessoas que tinham lojas, casas e famílias há dois anos. A determinação de alimentá-los e abrigá-los não é simplesmente jogar dinheiro fora", afirmou.
"[Falamos] do salário mínimo do setor privado, isso não tem nada a ver com as finanças do Estado. Assim como o presidente [dos EUA, Barack] Obama, acreditamos que ter um salário mínimo ridicularmente baixo não contribui para a estabilidade macroeconômica."
Cumprir regras
Reagindo à vitória do Syriza, Jeroen Dijsselbloem, ministro de Finanças holandês e chefe do grupo de ministros da Fazenda da zona do euro, disse que o novo governo grego não encontrará apoio entre autoridades do bloco para o cancelamento da dívida.
"A coisa mais importante é que, se você permanecer na zona do euro, deve cumprir as regras que temos. Esta é a verdade para todos os países", disse ele a repórteres.
"Já tem havido uma grande flexibilização da dívida. Nos próximos anos, o juro para a Grécia será muito baixo. Eles ganham um bom tempo para pagar os empréstimos, então a questão é saber existe algo a mais a ser feito", disse.