BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, tentou, em encontro em Washington, no domingo, cobrar "coerência" do escritor Olavo Carvalho, conforme relato feito por ele a pessoas próximas. O gesto foi uma tentativa do economista de mostrar o risco da postura de Olavo para a administração que ajudou a formar. Em Brasília, porém, o encontro reverberou como o selo de poder que faltava a Olavo.
Nas críticas desferidas pelo escritor na internet contra a ala militar do governo, Guedes viu um ataque que não poderia partir de um dos ideólogos do movimento conservador que ajudou a colocar Bolsonaro no poder. "Pariu e não quer responsabilidades? Indicou um ministro e, em menos de dois meses, quer derrubar? Então indicou mal, não é mesmo?", disse Guedes a um interlocutor.
A declaração de Guedes surpreendeu até aliados do Instituto Millenium. Amigo de Guedes e cofundador do instituto, o economista Hélio Coutinho Beltrão disse que tudo não passou de um "recado" para que o "guru" deixe de lado os ataques e se empenhe em ajudar a aprovar as pautas econômicas. "Foi uma crítica construtiva em tom cordial. Aquilo não combina com o que Guedes pensa. Certamente, Guedes não vê Olavo como um líder liberal", disse.
Alunos de Olavo de Carvalho em Brasília, no entanto, descartam que o escritor atenda ao apelo de Guedes. Há, inclusive, temor de que o economista possa virar também alvo dos ataques virtuais do escritor.
Guedes e Olavo não se cruzaram na campanha. Nos bastidores, o economista disse que tem amigos que foram influenciados por Olavo, mas que não conhece sua obra. No jantar, Guedes foi lembrado de que os dois haviam sido apresentados décadas atrás. Não se recordava.