O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na noite desta sexta-feira que furar o teto de gastos para ganhar eleições é uma irresponsabilidade com as futuras gerações, em meio a discussões sobre a forma de financiamento do Renda Cidadã, programa de transferência de renda que o governo Jair Bolsonaro quer criar em substituição ao Bolsa Família.
"Você furar o teto para fazer política, para ganhar a eleição, para garantir isso daí, isso é irresponsável com as futuras gerações, isso é mergulhar o Brasil num passado triste de inflação alta", disse Guedes, em declaração na portaria do ministério, após ter vindo a público que o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, teria feito críticas ao titular da Economia.
Sem citar Marinho, Guedes disse que o governo vai aumentar os recursos repassados no programa, mas ressalvou que haverá limites.
"Vamos ter que dar uma turbinada neste programa sim. Agora você precisa furar o teto? Não. A arte da política, a essência da política é fazer as escolhas e as escolhas não são simples", disse.
O ministro da Economia disse que "fazer só coisinha agradável para todo mundo para ganhar a eleição é muito bonito, e depois joga o povo no inferno" e disse que cada um ponto percentual de subida dos juros em razão de uma eventual flexibilização nas despesas públicas representa 80 bilhões de reais em despesas para o financiamento da dívida, quase o custo de três Bolsa Famílias antigos, comparou.
Guedes afirmou ainda que uma coisa é furar o teto porque se estava salvando vidas na pandemia do novo coronavírus, acrescentando que, se houver uma segunda onda de Covid-19 com um recrudescimento da doença, "aí sim é o caso de furar o teto".
As declarações de Guedes ocorreram após um dia de estresse do mercado em meio a críticas que Marinho teria feito a Guedes num evento com um grupo economistas pela manhã. É mais um capítulo da disputa entre os dois ministros sobre a condução da política de despesas do governo.
À tarde, a assessoria do ministro do Desenvolvimento Regional divulgou nota negando que ele tenha desqualificado "agentes públicos" na reunião de mais cedo e destacando que a solução do governo para as famílias que dependem de auxílio respeitará as âncoras fiscais.
A nota foi uma referência à informação que circulou nos mercados de que, na reunião, Marinho teria criticado o ministro da Economia e afirmado que o programa Renda Cidadã, de transferência de renda, será lançado de qualquer forma --o que foi interpretado como uma disposição do governo de violar a regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo à variação da inflação no ano anterior.
Os juros futuros disparavam nesta sexta-feira, com taxas de vencimentos do miolo da curva saltando mais de 20 pontos-base, em repercussão ao rumor sobre a reunião.
"A reunião teve o intuito de reforçar o compromisso do governo com a austeridade nos gastos e a política fiscal", diz a nota do ministério do Desenvolvimento Regional.
"Em sua fala, Rogério Marinho destacou que o governo reconhece a necessidade de construção de uma solução para as famílias que hoje dependem da auxílio emergencial e que essa solução será resultado de um amplo debate com o Parlamento, em respeito à sociedade e às âncoras fiscais que regem a atuação do governo."
A nota afirma, ainda, que na reunião não foram feitas "desqualificações ou adjetivações de qualquer natureza contra agentes públicos, nem tampouco às propostas já apresentadas".
"Quem dissemina informações falsas como essas tem claro interesse em especular no mercado, gerando instabilidade e apostando contra o Brasil."
No fim da tarde, na chegada ao prédio do ministério, Paulo Guedes comentou as notícias e afirmou que Marinho pode ser considerado "despreparado, desleal e fura-teto", caso tenha falado mal dele.
"Eu não acredito que o Marinho tenha falado mal de mim, nem acredito... se ele está falando mal, tem três coisas: é despreparado, é desleal e é o fura-teto, está confirmando que é um fura-teto", disse Guedes.