A advogada e estudante de Psicologia Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 54 anos, está desaparecida há 3 meses. As investigações apontam que ela foi sequestrada e que os criminosos compraram veículos com os R$ 4,6 milhões pagos pela família para o resgate. Ela é casada com Benjamin Cordeiro Herdy, de 78 anos, um dos herdeiros de um grupo que administrou universidades no Rio de Janeiro.
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Benjamin e Anic estão juntos há 20 anos e têm uma filha. Ele é um dos sete filhos de José de Souza Herdy, que criou em 1970 a Associação Fluminense de Educação (AFE), entidade mantenedora da então Faculdades Unidas Grande Rio (Unigranrio). Ele morreu em 1989.
A associação começou com os cursos superiores de Ciências Contábeis e Administração, em 1972, e, na sequência, implementou Pedagogia e Letras. Já em 1974, o Centro Educacional de Duque de Caxias (Ceduc) foi criado para atuar como Colégio de Aplicação.
O negócio seguiu se expandindo em 1980, com cursos nas áreas de Saúde, como Odontologia, Enfermaria e Farmácia. Naquele ano também foram abertas as graduações em Ciências Biológicas, Matemática e Química. Em 1990, a área de Saúde passou a contar com Medicina e Fisioterapia.
Atualmente, a Unigranrio, como é chamada, oferece desde cursos da graduação até doutorado. No entanto, não pertence mais à família Herdy. Isso porque, em 2021, o complexo foi vendido ao grupo Afya Educacional, rede de faculdades de Medicina, por R$ 700 milhões.
Segundo informações obtidas pelo jornal O Globo, em 2020 a receita líquida da Unigranrio foi de R$ 263,1 milhões – e 49% veio dos cursos de Medicina.
Outra frente
Além da herança envolvendo o patrimônio construído por seu pai, Benjamin é sócio-administrador da Herdy Incorporações e Participações, empresa que atua no ramo imobiliário, e do Hotel Fazenda Casarão da Afetiva, em Silva Jardim, no Rio de Janeiro.
Já ao lado da esposa, ainda desaparecida, é sócio da Lanic Consultoria e Serviços. A empresa, de Teresópolis (RJ), tem como atividade principal o treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial.
Relembre o caso
Segundo o Fantástico, as últimas imagens da mulher mostram que ela estava em um shopping de Petrópolis, às 11h08. Depois, ela vai até a praça de alimentação falando ao celular. Anic entra em um corredor a caminho da saída e, do lado de fora, passa por uma calçada e atravessa a rua. Depois disso, ela não foi mais vista.
O sequestro teria sido avisado ao marido de Anic pelo celular. O conteúdo das mensagens era de ameaças. Os sequestradores exigiram a quantia de R$ 4,6 milhões, valor que chamou a atenção da investigação por ser muito específico. O pedido revelou que os criminosos conheciam a condição financeira da família.
A troca de mensagens entre os sequestradores e o marido de Anic continuou e levantou mais suspeitas, principalmente quando foi dito que era preciso retirar o carro da mulher, que havia ficado no shopping, e foi sugerido que Benjamin pedisse ajuda a um homem identificado como Gordo. Esse é o apelido de Lourival Correa Netto Fadiga.
Lourival era conhecido da família da vítima há pelo menos 3 anos, tendo sido apresentado como um policial federal --o que era mentira--, e que prestava serviços de informática. O homem auxiliou Benjamin na negociação com os sequestradores e ajudou a montar a operação financeira para pagar o resgate de Anic.
Segundo a polícia, o marido foi até um shopping onde foi dito que a mulher seria liberada, enquanto Lourival foi com o dinheiro até uma favela conhecida como Terreirão, na Zona Oeste do Rio. Ele teria deixado o dinheiro dentro de uma lixeira. Anic não apareceu.
Depois de uma hora, Benjamin recebeu uma mensagem, supostamente escrita por Anic, de que ela teria usado o sequestro como uma artimanha para fugir do país com um amante. Dias depois, outra mensagem foi enviada para os dois filhos dela, dizendo que ela teria ido embora do Brasil por ter conhecido uma pessoa, e que pretendia passar o resto da vida com ela.
Desconfiada, a filha do casal gravou uma conversa com o pai e com Lourival, questionando por que a polícia não foi envolvida no caso. Ela procurou a delegacia após 14 dias do sumiço da mãe e a investigação foi iniciada.
A polícia analisou o conteúdo dos celulares de todos os envolvidos e descobriu que o sequestrados era, na verdade, Lourival. No dia do pagamento, ele não levou o dinheiro até a favela, e sim até uma concessionária, onde comprou uma caminhonete de R$ 500 mil e uma moto de R$ 30 mil. Ele indicou a Benjamin as contas bancárias para depositar o dinheiro.
O homem também comprou 950 celulares por US$ 153 mil, valor que equivale a cerca de R$ 785 mil. Os aparelhos seriam para abastecer uma loja de produtos de informática da família dele. Os filhos de Lourival e uma amante, Rebecca, também estavam envolvidos no crime.
Lourival foi preso no dia 20 de março em Teresópolis, assim como os filhos dele e Rebecca Azevedo dos Santos, a amante dele. Eles são réus por extorsão mediante sequestro. Ao Fantástico, a defesa afirma que não foi notificada da acusação e que só se manifestará em juízo. Os advogados dos filhos de Lourival disseram que trabalham para esclarecer o caso, e a defesa de Rebecca disse confiar na inocência dela.
O advogado da família de Anic disse ao Fantástico que eles ainda esperam encontrá-la com vida.