Após o Ibovespa ter convergido a níveis de julho, o leve rebote desta sexta-feira foi insuficiente para evitar que a referência da B3 acumulasse perdas pela quinta semana consecutiva, uma série negativa em extensão não vista desde abril passado, quando o recuo se estendeu à primeira semana de maio - na ocasião, contudo, o Ibovespa vinha de nível bem superior, aos 121,5 mil pontos, na primeira sessão daquele mês de abril. Considerando o início da mais recente sequência de perdas na quarta-feira de cinzas (22 de fevereiro), a retração do Ibovespa supera 10 mil pontos, tendo como referência o fechamento pré-carnaval, aos 109.176,92 pontos. Já o dólar caiu 0,74%, para R$ 5,25.
Hoje, o Ibovespa tocou o nível de 99 mil pontos, aos 99.258,43 na máxima da sessão, e fechou em alta de 0,92%, aos 98.829,27 pontos, saindo de mínima a 97.687,66 e de abertura a 97.926,14. Na semana, o índice cedeu 3,09%, vindo de perdas de 1,58%, 0,24%, 1,83% e 3,09% nos intervalos anteriores. No mês, recua 5,82% e, no ano, cai 9,94%. O giro desta sexta-feira desceu para R$ 20,4 bilhões, após ter mostrado moderada recuperação na sessão da véspera. Em Nova York, as bolsas operaram em baixa em boa parte do dia, mas conseguiram se firmar em leve alta depois do meio da tarde, mostrando ganhos entre 0,31% (Nasdaq) e 0,56% (S&P 500) no fechamento.
Tendo chegado ontem no intradia à faixa dos 96 mil pontos, e acumulado perdas no ano superiores a 10% no fechamento da quinta-feira, os investidores buscaram parcimoniosamente descontos na B3, o que favoreceu a maioria das ações de primeira linha nesta recuperação técnica, à exceção de Vale (ON -1,14%) e Petrobras. Entre as blue chips, os bancos mostraram ganho acima de 1% no encerramento do dia, com Bradesco ON (+1,42%) à frente. Petrobras ON (+0,35%) e PN (-0,04%) fecharam sem direção única, em dia negativo para o petróleo em Londres e Nova York.
Na ponta do Ibovespa, destaque nesta sexta-feira para BRF (+11,35%), Yduqs (+10,38%) e Hapvida (+8,70%). No lado oposto, Cogna (-8,87%), Locaweb (-8,02%) e Assaí (-1,97%).
"Lá fora, as bolsas tiveram, na maioria, desempenho negativo na sessão, voltando a refletir temores sobre a crise financeira global. O CDS do Deutsche Bank atingiu máxima em quatro anos, e as ações do banco caíam mais de 10% em Frankfurt. Na Europa, houve também leituras negativas sobre PMI, mostrando fraqueza da indústria no continente. Aqui, esta percepção de risco no exterior contribui para limitar a recuperação do Ibovespa. Houve recuo hoje dos juros futuros depois da desaceleração do IPCA-15 em março [divulgada pela manhã], o que ajudou na recuperação das ações de algumas empresas ligadas ao ciclo econômico", diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.
"Nos últimos 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 5,36%", em desaceleração, observa em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. "Quando olhamos a média dos núcleos, eles arrefeceram na passagem de fevereiro para março. Além disso, o índice de difusão, que mostra o porcentual de itens que aumentaram de preço no mês, caiu de 67,03% para 61,31%. Ambos são sinais positivos", acrescenta o economista.
Apesar das incertezas do ambiente doméstico e da piora na percepção de risco de crédito global, o otimismo do mercado financeiro sobre o desempenho das ações no Brasil ganhou força no Estadão/Broadcast desta sexta-feira. Entre os participantes, 75,00% disseram que a próxima semana deve ser de alta para o Ibovespa, ante 50,00% no Termômetro anterior. Ao mesmo tempo, a expectativa de queda, antes em 33,33%, agora está em 12,50%. Os que esperam estabilidade também representam 12,50% do total, abaixo dos 16,67% do levantamento da sexta-feira passada.
Dólar
O dólar à vista caiu 0,74% em relação ao real, a R$ 5,2511, devolvendo parte da alta de 1,01% observada na véspera. Com o resultado, zerou os ganhos da semana e encerrou a sessão em baixa de 0,36% na comparação com a sexta-feira passada. Operadores atribuem o movimento a um fluxo atípico - e pontual - de capital para a Bolsa, devido ao nível descontado das ações brasileiras.
O fluxo pontual levou o real ao melhor desempenho entre seus pares emergentes hoje, em um dia de fortalecimento do dólar no mercado internacional, devido aos temores de desaceleração da economia global - após dados de atividade mais fracos na zona do euro e Reino Unido - e à renovação das preocupações com a saúde do sistema financeiro global, diante das preocupações com a solidez do Deutsche Bank.
O cenário de aversão ao risco levou a quedas dos preços do petróleo, entre 1,0% (WTI) e 1,20% (Brent), e a uma alta de 0,57% do índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de rivais fortes. A moeda americana teve ganhos também em relação a pares emergentes do real como o peso chileno (+0,40%), rand sul-africano (+0,35%), apesar de uma queda de 0,62% frente ao peso mexicano.