RIO - O volume de serviços prestados no País permaneceu estável (0,0%) na passagem de abril para maio, mantendo o setor operando em patamares próximos ao pico da série histórica. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgados nesta sexta-feira, 12, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As inundações no Rio Grande do Sul prejudicaram os serviços presenciais no Estado, como os prestados às famílias e o transporte de carga e de passageiros. As atividades turísticas tiveram uma perda de 32,3% em território gaúcho em maio ante abril. Por outro lado, a realização do show da Madonna no Rio de Janeiro contribuiu positivamente para o desempenho do turismo fluminense, apontou o IBGE.
"Havia uma certa preocupação com o efeito que as chuvas no Rio Grande do Sul poderiam causar para atividade econômica. Os dados do comércio e de serviços mostraram que o impacto foi menor do que o esperado", avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank, em comentário. "Na nossa visão, os dados mais recentes de atividade sugerem que o PIB (Produto Interno Bruto) do 2º trimestre pode crescer mais de 1%. Adicionamos viés de alta para nossa projeção de crescimento de 2,2% para o PIB de 2024."
Em maio, o setor de serviços operava em nível 12,7% acima do registrado em fevereiro de 2020, no pré-pandemia, além de apenas 0,9% abaixo do recorde obtido em dezembro de 2022.
"O resultado do setor de serviços em maio reforça o que os indicadores da indústria e do varejo no mês já indicavam: que, aparentemente, os economistas superestimaram o impacto negativo do desastre ambiental no Rio Grande do Sul sobre a atividade neste ano. Mantemos expectativa de expansão de 0,5% para o PIB do 2° trimestre", manifestou Pedro Crispim, economista da gestora de patrimônio G5 Partners, em nota.
Em maio, houve uma predominância de resultados negativos, tanto setoriais quanto regionais, alertou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.
Na passagem de abril para maio, três das cinco atividades investigadas recuaram: transportes (-1,6%), informação e comunicação (-1,1%) e outros serviços (-1,6%). Na direção oposta, houve avanços nos serviços prestados às famílias (3,0%) e nos profissionais, administrativos e complementares (0,5%).
Regionalmente, 19 das 27 Unidades da Federação tiveram retração no volume de serviços prestados. Os destaques foram as perdas de Minas Gerais (-2,9%), Santa Catarina (-3,6%), Bahia (-4,1%), Maranhão (-8,7%) e Distrito Federal (-2,1%).
Receita cai no Rio Grande do Sul
As enchentes no Rio Grande do Sul derrubaram a receita nominal do setor de serviços no Estado. Porém, por uma oscilação extraordinária em um deflator da pesquisa, o volume de serviços prestados ficou positivo na região.
"De maneira geral, os serviços presenciais ficaram prejudicados. O aeroporto de Porto Alegre ficou fechado", frisou Lobo, gerente da pesquisa do IBGE, acrescentando que houve perdas, em geral, no transporte de cargas e nos serviços prestados às famílias na região.
Os serviços tiveram uma queda de 13,6% na receita nominal no Rio Grande do Sul em maio ante abril, mas o volume de serviços prestados cresceu 0,6% no período. O IBGE explica que o resultado do volume ficou contaminado pela queda de 86,18% no preço do subitem pedágio apurado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio. O subitem é usado como deflator da receita nominal das concessionárias de rodovias e, em combinação com o subitem óleo diesel, também deflaciona o resultado do transporte rodoviário de cargas.
"Vale destacar que várias concessionárias de rodovias interromperam as cobranças de tarifas no Rio Grande do Sul, visando facilitar o deslocamento de veículos que transportavam donativos ou que estivessem envolvidos em operações de resgate de vítimas das enchentes no Estado", justificou o IBGE.
Lobo ressalta que essa queda brusca nos preços dos pedágios acabou acarretando um aumento do volume de serviços prestados no Estado. Segundo ele, a melhor forma no momento de mensurar o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul é olhar a receita nominal em maio e acompanhar o comportamento de preços de deflatores nos próximos meses.
O pesquisador frisa que a normalização dos preços de pedágios vai pressionar, via deflator, o volume de serviços no Rio Grande do Sul em junho, especialmente nos ramos de concessionárias de rodovias e transporte de cargas.
"Vamos avaliar melhor o impacto quando o distúrbio no nível de preços estiver exaurido", afirmou. "O resultado de 0,6% (alta no volume em maio) fica contaminado por uma distorção no nível de preços."
Após a queda em maio, o IPCA de junho mostrou que o subitem pedágio teve uma elevação de preços de +358,36%.