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Índice global vê Brasil como exemplo na redução da fome, mas adverte que crise pode reverter sucesso

11 out 2016 - 11h58
(atualizado às 12h57)

O Índice Global da Fome 2016 divulgado nesta terça-feira pelo Instituto Internacional de Investigação sobre Políticas Alimentares (IFPRI, na sigla em inglês) coloca o Brasil como "exemplo" no combate ao problema. O relatório cita os programas de proteção social aplicados nos últimos anos como modelos para outros países. A organização, porém, alerta que a crise econômica e política podem representar uma ameaça à evolução brasileira no combate à fome.

Atualmente, 1,6% da população brasileira passa fome
Atualmente, 1,6% da população brasileira passa fome
Foto: BBC Brasil

"A expansão efetiva de programas de proteção social e de intervenção na nutrição levou a uma dramática queda na pobreza, fome e desnutrição no Brasil", afirma o relatório, publicado nesta terça-feira, em Bruxelas.

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Atualmente, 1,6% da população brasileira passa fome e o índice de mortalidade entre os menores de cinco anos é também de 1,6% - o que resulta em um índice inferior a 5 pontos, de acordo com os critérios do IFPRI. Em 2001 a fome afetava 12,3% dos brasileiros e 3,2% das crianças morriam antes de completar cinco anos, segundo dados da organização.

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Para os pesquisadores, "esse tipo de experiência de estratégias baseadas na proteção social no Brasil ou na agricultura familiar na China nos oferece modelos que podem ser adaptados e reproduzidos por outros países".

Os especialistas advertem, no entanto, que a atual crise poderiam prejudicar os resultados do programa brasileiro.

"Com a crise econômica e política que o Brasil enfrenta atualmente, os programas públicos podem não ser mantidos e a tendência positiva na redução da pobreza e da desnutrição poderia se reverter", afirmou Andrea Sonntag, uma das autoras do relatório, em entrevista à BBC Brasil.

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Top 16

O Brasil figura entre os 16 países que dividem a melhor posição no Índice Global da Fome 2016, junto com Argentina, Chile, Costa Rica e Cuba.

Todos têm índices inferiores a 5 pontos, comparado a uma média global de 21.3 pontos.

O índice é calculado com base nos níveis de desnutrição geral e infantil e na taxa de mortalidade infantil de cada país entre 2011 e 2016.

Foram analisadas as situações de 118 países em desenvolvimento.

Entre os latino-americanos, o Brasil foi o país que mais avançou na redução da fome, passando de um índice de 16.1 em 1992 a 11.8 no ano 2000, e 5.4 em 2008.

A Argentina tinha um índice de 5.8 em 1992, Chile de 6.2, Costa Rica de 7.6 e Cuba de 8.7. Todos os quatro países já haviam alcançado índices iguais ou inferiores a 5 pontos em 2008, algo que o Brasil só conseguiu agora.

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Fome no mundo

No nível global, o índice aponta para uma redução de 29% na fome desde 2000, mas ressalta que 795 milhões de pessoas ainda sofrem com o problema - o equivalente a 13,1% da população mundial.

As principais vítimas são as crianças: cerca de 28% dos menores de cinco anos não têm altura adequada para suas idades e 8,4% não têm peso adequado.

Por outra parte, a mortalidade infantil caiu de 8,2% em 2000 para 4,7% em 2015.

O estudo considera como 'sério' ou 'alarmante' o nível de fome em 50 países, a maioria deles no sul da região africana do Saara e no sul da Ásia.

Programas sociais implementados em governos de Lula e Dilma são considerados modelos pelo IFPRI
Foto: Ricardo Stuckert/Institulo Lula
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Os piores índices foram registrados na República Central Africana e no Chad, resultado de anos de conflitos violentos, movimentos internos de refugiados e desastres climáticos, que tiveram impactos negativos sobre a produção local de alimentos.

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No entanto, os pesquisadores chamam atenção para uma situação 'seriamente preocupante" na Síria, Sudão, Eritreia, Somália, Congo e outros cinco países, que não aparecem no Índice Global por falta de dados concretos.

"Com base em informação disponível de organizações internacionais especializadas em fome e malnutrição, esses dez países são identificados como fonte de importante preocupação", afirma o relatório.

O IFPRI lembra que a ONU já acusou os grupos armados ativos na Síria de utilizar a inanição como arma de guerra. Além disso, os seis anos de conflito armado no país levaram milhares de sírios ao exílio.

América Latina

Entre os países latino-americanos, o nível de fome varia entre "baixo", como é o caso do Brasil, e moderado, como em Equador, Bolívia e Paraguai.

As únicas exceções na região são Haiti e Guatemala. No primeiro, a situação é considerada "alarmante", com 53,4% da população sem alimentos suficientes. O segundo apresenta um quadro "sério", com 15,6% de mal-nutridos.

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A extensão do período analisado (de 2011 a 2016) não permite refletir com precisão a realidade atual na Venezuela, onde a população enfrenta falta generalizada de alimentos.

Segundo os pesquisadores, as causas da fome no mundo são "complexas e intrinsecamente ligadas à pobreza, desigualdade, violência, conflito, doenças e mudança climática".

Para solucionar o problema, eles consideram necessário "parar os conflitos armados e minimizar os efeitos do aquecimento global, mas também promover sistemas agrícolas em pequena escala, com prioridade para cultivos para alimentação e não para a produção de energia".

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