Oferecimento

Inflação desacelera em novembro, mas vai a 4,87% no acumulado em 12 meses

IPCA ficou em 0,39%, puxado principalmente pelos preços de alimentos e bebidas; passagens aéreas tiveram alta de 22,65% no mês passado

10 dez 2024 - 09h25
(atualizado às 15h16)

A inflação oficial no País desacelerou de uma alta de 0,56% em outubro para 0,39% em novembro, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta terça-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No entanto, a taxa acumulada em 12 meses acelerou pelo terceiro mês consecutivo, subindo a 4,87% em novembro. Esse número é importante no contexto macroeconômico atual. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nestas terça-feira e quarta-feira para decidir os novos rumos da taxa básica de juros no País, hoje em 11,25%, de olho na inflação.

Publicidade

A meta perseguida pelo BC é de 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Ou seja, o número atual está bem acima do teto da meta.

O IPCA de dezembro precisaria encerrar com alta máxima de até 0,20% para que a meta deste ano não fosse estourada, calculou o IBGE. A LCA Consultores, porém, espera uma taxa mais de três vezes superior, 0,68% em dezembro, terminando o ano em 5,0%.

"Por conta da recente desvalorização cambial, elevamos nossa projeção para o IPCA de dezembro de +0,59% para +0,68%, bem como o ano de 2024 passou de +4,8% para +5,0%. Sobre 2025, a maior inércia que será herdada do ano anterior nos fez elevar a projeção do IPCA de +4,4% para +4,5%", projetou Fábio Romão, da LCA Consultores, em relatório.

O IPCA acima da meta de inflação deve acelerar o ritmo de alta da taxa básica de juros, a Selic, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, previu Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.

Publicidade

"Com o mercado de trabalho aquecido, o custo da mão de obra tende a aumentar, o que deve continuar pressionando a inflação de serviços. Nossa projeção é de que o IPCA termine o ano em 4,7%, acima do teto da meta. Já para 2025, esperamos inflação de 5,3%, devido à perspectiva de um real mais desvalorizado", apontou Salles, em comentário. "Os dados divulgados hoje reforçam nossa visão de que o Copom deve acelerar o ritmo de alta dos juros para controlar a inflação. Esperamos um aumento na Selic de 0,75 ponto percentual na reunião de amanhã, levando a taxa para 12%, mas não descartamos uma elevação mais acentuada, dadas as expectativas para o IPCA."

Inflação menos espalhada

Seis dos nove grupos de despesas registraram quedas de preços em novembro. O maior alívio partiu de habitação (-1,53%): a energia elétrica teve redução de 6,27%, puxada pela substituição da bandeira tarifária vermelha patamar 2 pela bandeira tarifária amarela, a partir do dia 1º de novembro, diminuindo assim a cobrança extra sobre o consumo nas contas de luz.

As famílias também gastaram menos com artigos de residência (-0,31%), vestuário (-0,12%), saúde (-0,06%), educação (-0,04%) e comunicação (-0,10%).

O índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 62% em outubro para 58% em novembro. A difusão de itens alimentícios diminuiu de 67% em outubro para 65% em novembro. Já a difusão de itens não alimentícios saiu de 57% em outubro para 52% em novembro.

"A gente teve uma inflação mais concentrada do que no mês anterior. A alta de preços foi observada numa menor quantidade de subitens. A inflação foi menos espalhada do que no mês anterior", ressaltou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.

Publicidade

Por outro lado, houve forte pressão dos aumentos nos preços dos alimentos, passagens aéreas, serviços turísticos e cigarro.

A passagem aérea subiu 22,65%, liderando o ranking de pressões individuais sobre a inflação do mês. O cigarro ficou 14,91% mais caro em novembro, segundo maior impacto sobre o IPCA, em decorrência do aumento da alíquota específica do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre o produto a partir de 1º de novembro. Houve altas também em pacote turístico (4,12%) e hospedagem (2,20%).

"O mês de novembro é um mês com muitos feriados, e é um mês que já está próximo do final de ano. Inclusive algumas áreas tiveram feriados prolongados. No caso do Rio de Janeiro, teve o G20 que gerou um feriado mais prolongado. Isso pode ter contribuído para esse aumento nas passagens aéreas e também nos serviços turísticos", justificou Almeida.

Alimentos mais caros

Os alimentos para consumo no domicílio aumentaram 1,81% em novembro, terceiro mês seguido de avanços de preços. Os maiores vilões foram as carnes, uma alta de 8,02%, que equivaleu a metade de toda a inflação do mês. Os principais reajustes ocorreram nos cortes alcatra (9,31%), chã de dentro (8,57%), contrafilé (7,83%) e costela (7,83%). Houve elevações também no óleo de soja (11,00%) e no café moído (2,33%).

Preços das carnes subiram mais de 8% em novembro
Preços das carnes subiram mais de 8% em novembro
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Segundo o IBGE, os preços foram pressionados pela restrição de oferta de alguns produtos, em decorrência de exportações maiores e de problemas climáticos.

Publicidade

"Não só carne bovina, como carne de porco e frango tiveram aumentos de preços neste mês de novembro", atentou Denise Cordovil, analista do IBGE. "Nas carnes, a gente observa uma menor disponibilidade no mercado interno de animais para abate e também aumento das exportações, que a gente já vem observando há algum tempo ao longo deste ano. Com relação ao óleo de soja, tem menor disponibilidade no mercado interno e maior exportação. Nas hortaliças e verduras, é alface, coentro, cheiro verde. Todas essas hortaliças têm apresentado alta de preços em função de altas de temperaturas."

A desvalorização do real ante o dólar também contribui para o fenômeno, uma vez que torna mais atraente aos produtores o escoamento da produção doméstica para o mercado internacional.

"O câmbio é um dos fatores que pode influenciar o comportamento não só de alimentos, mas também de diversos outros subitens da cesta do IPCA", lembrou André Almeida. "No caso dos alimentos, um câmbio mais desvalorizado tende a fazer com que haja mais atratividade para destinar os produtos para o mercado externo."

Além disso, Almeida ressalta que a alta do dólar pode influenciar também preços de commodities e de bens industrializados, como produtos com componentes importados.

Publicidade

"O câmbio não afeta pontualmente, é uma questão que vai ao longo dos meses", acrescentou Almeida. "Soja, milho e trigo são commodities cotadas em dólar, que são matéria-prima, por exemplo, para a ração animal, para o pão francês. São esses mecanismos de transmissão que eu mencionei."

Nos últimos três meses de avanços, a alimentação no domicílio acumulou uma alta de 3,63%, ante um aumento de 1,40% no IPCA no mesmo período. Nos 12 meses encerrados em novembro, a alimentação no domicílio acumulou elevação de 8,41%. O IPCA do período ficou em 4,87%.

"Isso significa que a alimentação no domicílio tem contribuído para puxar o IPCA para cima, uma vez que está acima do índice geral", concluiu o pesquisador do IBGE.

TAGS
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se