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'Inflação estaria em 10% se juros não estivessem altos', diz presidente do Banco Central

Em Londres, Roberto Campos Neto disse nesta se os juros não estivessem altos no Brasil, a taxa de inflação, em 2023, não seria de 5,8%, como projetado, e sim 10% o que exigiria uma taxa Selic em torno de 18,75%.

21 abr 2023 - 07h27
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, durante conferência realizada em Londres
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, durante conferência realizada em Londres
Foto: Lide / BBC News Brasil

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (21) que, se os juros não estivessem altos no Brasil, a taxa de inflação ficaria em 10% em 2023, não 5,8%, como previsto pelas projeções.

Ele afirmou ainda que a taxa Selic precisaria estar em 18,75% hoje para frear o aumento de preços no país.

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Campos Neto tem sido alvo de críticas do governo Lula, parlamentares e empresários pela decisão de manter, em março, a taxa básica de juros em 13,75% — patamar em vigor desde o início de agosto de 2022. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) argumenta que os juros altos emperram o crescimento da economia.

"O Banco Central fez a maior alta de juros num ano de eleição na história do mundo. Isso mostra que o BC atua de forma bastante independente. Na política monetária, quando você age antes, o custo é menor", disse Campos Neto em palestra na conferência da Lide, em Londres.

"Se a gente não tivesse subido os juros, a inflação não seria 5,8%, seria 10% em 2023 e 14% no ano seguinte. E a taxa de juros estaria em 18,75%."

Falando para uma plateia de empresários, ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do Banco Central e parlamentares, Campos Neto defendeu repetidas vezes a autonomia do Banco Central.

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Segundo ele, embora o "anseio dos juros seja político" o trabalho do Banco Central "é tecnico".

"O timing técnico é diferente do timing político, por isso a autonomia é importante. O custo de combater inflação é alto e sentido no curto prazo, mas o custo de não combater é mais alto e perene", afirmou.

Ele citou a Argentina como exemplo de país que viu a inflação ficar descontrolada depois de reduzir juros, abandonar metas de inflação e retirar a autonomia do Banco Central.

"Será que vale seguir sistema de metas? Olhamos países que tinham sistemas e abandonaram. A Argentina aumentou meta para ter flexibilidade. Depois abandonou o sistema de metas e a autonomia do BC, e a inflação acelerou", disse.

Para o presidente do Banco Central a taxa Selic alta se justifica porque previsões econômicas para os próximos anos no Brasil se deterioraram.

"De novembro para cá, as expectativas começaram a se deteriorar, tanto para 2025 quanto 2026."

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Críticas duras do presidente do Senado

Um dia antes, também durante a conferência da Lide, a alta taxa de juros foi alvo de duras críticas do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.

Diante do presidente do Banco Central, que estava na plateia da conferência, Pacheco afirmou que há um ""consenso" entre o governo federal, o Congresso Nacional e empresários de que a taxa de juros precisa baixar.

"Não conseguiremos crescer o Brasil com taxa de juros a 13,75%. Temos um novo governo com uma forma de pensar ao país, um Congresso que tem suas perspectivas. Há divergências no meio empresarial. Mas se há algo que nos une é o desejo de reduzir taxa de juros no Brasil", disse.

"Nós aprovamos a autonomia do Banco Central, que foi fundamental. Mas a perspectiva dessa autonomia é para que o BC não fosse suscetível a interferências indevidas. Há um sentimento de que precisamos encontrar caminhos para a redução imediata da taxa de juros."

Segundo Pacheco, a redução dos juros "é o desejo do Congresso, da economia e do setor produtivo, junto com o arcabouço fiscal."

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante conferência em Londres
Foto: Lide / BBC News Brasil

Arcabouço fiscal

Após discursar, o presidente do BC foi perguntado sobre o que acha do arcabouço fiscal, proposta enviada pelo governo Lula ao Congresso e que vai substituir o teto de gastos. Segundo Campos Neto, o arcabouço fiscal "vai na direção certa", mas ainda pode ser aprimorado pelos parlamentares.

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"Pode ser que tenha alguns reparos e melhorias no Congresso. Mas acho que está na direção certa."

Para o presidente do BC, é preciso "melhorar a comunicação" sobre o potencial do arcabouço fiscal em conter gastos para que os mercados reajam, melhorem as previsões econômicas para o Brasil e permitam reduções na taxa de juros.

"Temos que explicar melhor, para que expectativa dos mercados melhore. Nenhum banqueiro central gosta de subir juros."

Segundo a proposta do governo federal, no lugar do teto de gastos — que hoje limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior —, os gastos públicos passariam a crescer dentro de um intervalo de 0,6% a 2,5% acima da inflação, a depender do ritmo de expansão das receitas.

Campos Neto também foi perguntado se ele acredita que a autonomia do Banco Central está ameaçada, já que ela foi garantida por uma lei aprovada pelo Congresso e poderia eventualmente ser retirada pelos parlamentares.

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"Não acho que está amaçada. O debate sobre juros é normal e é meu papel explicar. Estou sempre disponível para explicar o que está acontecendo. Acho que é importante aumentar a comunicação."

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