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'Inflação estaria em 12% e 13% se não fosse a maior alta de juros em ano eleitoral', diz Campos Neto

Presidente do Banco Central afirma que debate sobre o rumo dos juros no País virou algo discutido pelos brasileiros como os jogos da Copa da Mundo: 'Todo mundo tem opinião'

5 jun 2023 - 18h51

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 5, que, se a autoridade monetária não tivesse elevado a Selic de forma robusta em 2022, mesmo sendo um ano eleitoral, a inflação brasileira estaria na casa de 12% ou 13%.

Plenário do Senado Federal durante sessão de debates temáticos destinada a debater o tema "Juros, Inflação e Crescimento". À mesa, em pronunciamento, presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Foto: Pedro França/Agência Senado
Plenário do Senado Federal durante sessão de debates temáticos destinada a debater o tema "Juros, Inflação e Crescimento". À mesa, em pronunciamento, presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Foto: Pedro França/Agência Senado
Foto: Pedro França / Agência Senado / Estadão

Em palestra durante evento da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), ele voltou a enfatizar que é a primeira vez na história que o Brasil tem uma inflação, na média, "muito menor" a dos países desenvolvidos.

O cenário mais positivo para os preços no País, de acordo com Campos Neto, se deve, entre outros pontos, à autonomia do BC, que, segundo ele, se mostrou eficiente.

O presidente da instituição ressaltou que o principal objetivo do BC é o de levar a inflação para a meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Este mês, o CMN deve se reunir para debater o tema mais uma vez.

Apesar de comentar que a Selic está alta no País (13,75% ao ano), Campos Neto destacou os impactos gerados pela manutenção do juro nesse patamar nos últimos meses. "Os juros estão altos no Brasil, mas a desaceleração do mercado de crédito está moderada em relação a outros países", comparou.

Ele também disse que a desaceleração de crédito no Brasil é menor do que a dos Estados Unidos, Europa e até de outros países emergentes. Campos Neto também disse que as pessoas começaram a entender agora que o crescimento da China não vai ser tão grande como o esperado inicialmente.

Para o presidente do Banco Central, houve aspectos positivos na atuação para mitigação dos efeitos da pandemia, mas também uma inflação alta e persistente no mundo inteiro.

"O BC tem a vantagem de estar muito conectado com outros BCs do mundo. Havia o medo de haver uma grande depressão, como nunca vista antes, mas houve também uma grande coordenação. E a notícia boa é que evitamos a depressão e tivemos uma recessão não tão grande", considerou. "Mas houve efeitos colaterais, que foi a inflação alta e persistente no mundo inteiro", acrescentou.

Ele afirmou que o consumo de bens no mundo até hoje não retornou à tendência pré-pandemia e que, em grande parte do mundo, a inflação começou a cair.

Inflação persistente

Segundo Campos Neto, tirando energia e alimentos, o Brasil ainda apresenta uma inflação persistente. Os núcleos de inflação na América Latina, disse, têm mostrado uma tendência de queda bastante lenta e esse movimento é algo que preocupa. "A melhora da inflação é lenta. É preciso persistir."

Ele disse considerar, porém, que o cenário de inflação está um pouco melhor, inclusive de núcleos, com serviços. "O Brasil está muito bem em preços de energia", comparou. Em relação aos vizinhos, ele ressaltou que o mercado financeiro projeta uma maior queda de juros no México e no Brasil para os próximos meses.

Campos Neto afirmou que o debate sobre o rumo dos juros no País virou algo discutido pelos brasileiros como os jogos da Copa da Mundo. "Todo mundo tem opinião", disse, acrescentando, porém, que o debate sobre o tema é importante.

Ele defendeu o órgão da ofensiva que tem sofrido do governo desde o início da administração Lula 3 e argumentou haver um momento difícil de inflação global e que o BC precisou elevar os juros para conter a perda do poder de compra da população, corroída pela subida dos preços. "A gente entende que o processo precisa ser feito de forma autônoma e o ocorre de forma às vezes descorrelacionada de outros ciclos."

O presidente do BC afirmou ainda que a instituição "não é só juros". "Se não fosse o BC, não teria Pix", disse, sobre o maior sucesso de sua gestão. "O BC tem de escapar de críticas do dia. O que vai ficar são entregas que a gente fez", defendeu. "Ficamos sentidos às vezes de ver tantas críticas ao BC, quando BC é órgão técnico e faz tantas entregas à população", lamentou em outro momento.

Sobre as entregas, além do Pix, em que repetiu que espera para um futuro não tão distante a concessão de crédito, Campos Neto comentou sobre o Open Finance, que já permite puxar de forma imediata informações de produtos e serviços de um banco no aplicativo do outro. "Vai baratear bastante", disse, destacando o aumento da competição.

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Campos Neto é o atual presidente do Banco Central
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO / Estadão
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