O IPCA-15 registrou alta inesperada em janeiro, iniciando o ano sob influência dos preços de alimentos e bebidas no momento em que o governo demonstra preocupação com o tema e em meio ao ciclo de aperto monetário do Banco Central.
Em janeiro o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,11%, informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contra alta de 0,34% em dezembro.
Apesar da desacelerção, o resultado foi bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 0,03% no mês.
Ainda assim a taxa acumulada em 12 meses foi a 4,50%, de 4,71% no mês passado, mas acima da expectativa de alta de 4,36%.
O IBGE destacou que, em janeiro, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta nos preços, sendo que a maior influência foi exercida pelo avanço de 1,06% do grupo Alimentação e bebidas.
A alimentação no domicílio subiu 1,10% em janeiro, influenciada por aumentos do tomate (17,12%) e do café moído (7,07%).
Os custos dos alimentos foram justamente tema de destaque esta semana depois que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse na quarta-feira que o governo faria reuniões para adotar medidas com o objetivo de reduzir os preços desses itens aos consumidores, ao mesmo tempo que expressou a esperança de que safras melhores neste ano contribuam para a redução dos preços.
Na quinta-feira o governo realizou reuniões sobre o tema, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad afirmando que há espaço regulatório a ser explorado no Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), citando uma melhor regulação da portabilidade de vale-refeição.
A segunda maior contribuição para o resultado do IPCA-15 em janeiro foi dada pelo grupo Transportes, cujos custos subiram 1,01%. Os preços das passagens aéreas aumentaram 10,25% e registraram o maior impacto individual do mês.
Os combustíveis tiveram alta de 0,67% no mês, com aumentos nos preços do etanol (1,56%), do óleo diesel (1,10%), do gás veicular (1,04%) e da gasolina (0,53%).
André Valério, economista sênior do Inter, destacou o resultado do núcleo da inflação, que elimina itens voláteis como alimentos e combustíveis.
"Em janeiro, a variação foi de 0,67%, maior valor desde fevereiro de 2023, com a inflação acumulada em 12 meses alcançando 4,43%. O comportamento do núcleo sugere maior inflação de demanda em janeiro, o que é corroborado pelo comportamento da inflação de serviços", disse ele, calculando alta de 0,85% dos serviços em janeiro.
A única queda de preços aconteceu em Habitação, de 3,43%, uma vez que o custo da energia elétrica residencial caiu 15,46% em janeiro, em decorrência da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês de janeiro, segundo o IBGE.
No ano passado, a inflação medida pelo IPCA fechou com alta acumulada de 4,83%, acima do teto da meta -- com centro de 3,0% e margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Além de um mercado de trabalho ainda aquecido com aumento da renda, soma-se às preocupações inflacionárias a valorização do dólar, que vem sendo negociado próximo de 6 reais, o que encarece custos e produtos.
O Banco Central volta a se reunir na próxima semana para discutir a política monetária depois de ter elevado a taxa Selic em 1,00 ponto percentual em dezembro, a 12,25% ao ano. O BC já previu mais duas altas da mesma magnitude à frente.